quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

delicadeza

Nunca esperei tanto da vida
existe dedo, boca, cheiro...
quanta poesia.

.ponto irracional

me conceda uma estrada com entropias para que eu.
possa me esgueirar.
num resto de pedras dissimuladas.
para que eu caia num buraco e descubra que lá dentro.
existem princesas e príncipes.
adentrando devagar, agora sim posso ver uma luz aqui dentro.
espere! seria isso...
Não, não seria.
Não é possível que aqui existam animais falantes.
tenho medo.
acho que eles não falam.
mas olham.
e olham conflituosamente.
eu fujo aos seus olhares.
me apoio numa corda que me direciona ao comum.
olho-a.
sento e choro.
mais tarde saberia que fui adiante.
deixei de me sentir uma ocasião.
***As Crônicas de Nárnia foi um filme abalou o meu conspícuo pessimismo. Confesso que o leão me surpreendeu.
Aguardo um milagre.

sábado, 24 de dezembro de 2005

Espelho

É bom sentir tua mão tocando o meu braço exausto de tanto peso carregado, sentir que me prezas, mesmo que isso não baste. Sentir teu cheiro sempre que te aproximas e me inibe com tantos olhares distorcidos. Parece que queres me falar, e me falas. Assumo que entendo. Entendo, pois é pra isso mesmo que te busco, te busco sem que sintas para ouvir exatamente o que dizes. Falas da tua transparente forma que acanha a minha sensível vaidade. Acanha porque fala-me os contornos, os sorrisos, a pinta insignificante no braço, o olhar mais direcionado, o andar característico, a parte da barriga que aparece, medes exatamente a distância entre a blusa e a calça, e com um gesto sutil abaixas a blusa para diminuí-la. Notas a cor do meu cabelo, e nunca dizes não estar bom. Aprecias cada suspiro, cada frase pronta que eu te digo, sem a menor certeza. Tu nem imaginas tal possibilidade e encaras como verdade - me fazendo ainda mais vaidosa. Me preenxes, me falas de uma inteligência que desconheço, me estudas te vendo no espelho, te fazes bem ver-te em mim. Não me gostas sincera ao extremo, te dói ouvir detalhes sentimentais quando o atuante não és tu. Mas insistes, sabes que eu não falaria e por isso desfarça sua insegurança com uma curiosidade imatura. Finges ser menos sensível ao que posso revelar, mas te vejo no espelho e sei que esse se quebraria ao me ouvir falar de um outro que não me vigora tanto quanto tu. Ficaríamos aos pedaços e não restaria sequer sombra de duas pessoas que por estar perto demais não se viam.
Não sabiam definir suas formas.
Esses encontros os fizeram um só diferente daqueles refletidos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Só passei aqui pra dizer que não aguento mais ver tantos rostos felizes e me sentir mal por não estar da mesma forma. Porquê tudo é tão vazio?

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

A vida

Penso que a vida não tem um sentido permanente. Ela se faz valer por pequenas coisas, detalhes pouco visíveis. Um abraço é muito mais que um toque entre duas pessoas. Há um fluxo e refluxo de energia intenso, no qual os corpos se unificam e vibram num só ritmo. Mesmo que curto, existe a troca inconsciente. Nos tornamos íntimos de tal pessoa, e naquele momento a queremos bem. Logo se muda de fase, e as sensações são eternas metamorfoses. Hora degustamos como animais do prazer da carne. Outrora, raciocinamos como seres humanos. E é nesse instante que nos deixamos dominar pelo consciente: grande arquivo de dogmas.

17.11.04

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Infeliz descoberta

Descobri que nem a solidão se basta.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Adoro te inventar

Gosto de te imaginar falando frases prontas que eu penso que são pra mim

Te crio numa tela em branco
Coloco as cores que concordam com a minha estética
Por isso te vejo tão perto
Você sou eu envolto numa trabalhada moldura
Na minha tela, eu te controlo
Você ainda me parece criança
E vê em mim a beleza de um mundo que não conhece
Ouve de mim a história que eu quero contar
Não faz diferença
Verdade ou não, você acredita
E eu também
Queria te fazer dependente da minha inocente maturidade
Te mostrar o que seus olhos não alcançam

Te quero da forma que vejo
Sem falsas promessas
Só meios sorrisos
Sem longos discursos
Só meias palavras tão metafóricas que ofuscam o meu ver
Com esse brilho nos olhos
Curiosidade de um menino maduro
Gana de um homem ingênuo
Desconfiança de quem chega de surpresa

Até o que antes me parecia tolo
Hoje soa, no mínimo, agradável quando feito por você
Você descobriu as minhas cores
E eu ainda procuro uma única cor que consiga direcionar seus dispersos olhos para minha insana ilusão...

Antes que eu me iluda
Antes que eu te considere arte final
Antes que você não me permita ver nada
Antes que outra pessoa te pinte

Qual a cor que te agrada?

Antes cedo do que nunca.

03/11/2005

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Fama

"A fama é proporcional ao mistério."
Inês Pedrosa

Até apaixonar


Todos olharam, como nunca tinham olhado antes. Todos riram de uma forma que a fez notar sua graça até agora afogada na timidez. Ao passo que o riso aumentava, ela também ria-se, crescia, e fazia como se quisesse abraçar todos que ali estavam perplexos e surpresos com tamanha aparição, tão repentina, que se podia ouvir um silêncio desconfiado a cada sorriso que se punha num crescente e acabara numa gargalhada febril. Ela deixou de ser menina, deixou de ser pequena, esqueceu de lembrar das sua incertezas para inflamar sem o menor transtorno o sorriso de pessoas que sequer notavam a sua insistente presença. Ela aguardara com a sabedoria de um adulto o momento de esbanjar o seu sorriso de menina. Sabe dos seus encantos. Vive com um suspiro objetivo que é acionado a cada conquista sanada. É uma eterna apaixonada por pessoas, todas as pessoas, se apaixona por todos ao mesmo tempo.
Se apaixona até apaixonar.
Agora a conquista sede seu lugar.
Ela sabe que aqueles olhos nunca mais a olharão da mesma forma, mas acredita que os sorrisos podem ser os mesmos. Os sorrisos são menos instáveis que o olhar.
Encanta. Agora ela busca outros olhares que possam ser surpreendidos, outros sorrisos que atentem para a sua graça, outra conquista que a faça sentir cheiro de novo. É viciada em novidade, transforma a rotina em inúmeras descobertas.
Brinca com o velho e com o novo.
Alterna entre graças e degraças.


domingo, 4 de dezembro de 2005

Personagens do tempo

Nessa efêmera distância
Me encontro no seu olhar
Te toco em pensamento
E te sinto cada vez maios perto

Somos horizontes simultâneos
Construtores de uma estrada enérgica
que interliga os dois polos do mundo
Somos autores do diâmetro

Complementamo-nos
como o sol e a lua
Que se propõe a uma dança diária
Fazendo da rotina uma eterna novidade

Se devassam dia pós dia
E tem ao seu redor uma imensa platéia
Plenam, sem esperar pelo tempo
São protagonistas do tempo

O tempo não passa
O dia passou
O tempo não passa
A noite passou

Não espero pelo tempo
Aguardo pelo seu atraso
O tempo não passa
Você também não
O dia não acontece
A noite perdeu a razão.

(17.12.04)

Sinonímia

A grande polissemia pessoal da qual sou apenas vitima me confunde. Mesmo que momentaneamente seja esplendido, as entrelinhas me consomem, e me fazem repensar conceitos como: felicidade.
Essa metamorfose constante é tão monótona quanto a rotina...
E mesmo que sem razão sigo um caminho que defino como: ilusão denotativa.
20.04.05

O ritmo das palavras

Esperei por uma música, sem esperança.
Acho duvidosa essa espectativa que criamos num show. Esperamos por uma determinada música em especial, e quando essa música toca, parece que naquele momento somos únicos. Temos a sensação de que a música do silêncio que nos aterroriza com a verdade exclusiva resolveu dar lugar a música das palavras.
Acredito que o silêncio é a única verdade absoluta, mas penso que a música é a utopia que nos nutre.

Música do Lenine_ Paciência

"Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é
normal
Eu finjo ter paciência"


Show 16/07
(18.7.05)

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Comecei uma coleção.

Falo de uma coleção um tanto quanto diferente. Coleciono crônicas. O engraçado é que não sei se por coincidência ou por descoberta de um estilo, tenho (por enquanto) apenas duas do mesmo autor. Esqueci o seu nome agora, mas suas crônicas - dotadas de um ar de impotência diante do tempo - devem ser conceituadas, pois se encaixam justamente na ante capa, do Segundo Caderno do Jornal O Globo. Sempre achei interessante colecionar, mesmo que não tivesse uma (acho que por não gostar de coisas que se distanciem em demasia do real). Inclusive certa vez assisti uma peça - da qual também fazia parte - em que uma mulher tinha como único fazer sua coleção de vidros. Parecia a decadência, mas agora penso que era um modo de vida como tantos outros, a diferença é que a personagem tinha medo da vida real, e fazia da coleção uma vida imaginada, sem dores. Acho que no fundo a coisa é bem por aí. Uma coleção nos eleva, nos faz dirigir uma "vida", e como não conseguimos fazer o mesmo com a nossa, somos inflamados a buscar algo que seja do nosso controle. Nunca consegui completar uma coleção. Falo de álbuns que nos são empurrados na infância, figurinhas sem sentido, mas que nos fazem nos sentir o máximo quando temos uma pela qual nosso amigo daria quase a vida pra ter. Parece exagero, mas na fase em que nossa energia ultrapassa os limites da razão, no momento em que só entende quem é um igual, somos capazes de coisas pouco imagináveis. Nunca consegui terminar um álbum, e por isso, acho interessante começar agora uma coleção sem fim. É, a minha coleção é infinita. Assim eu fujo dessa sensação de impotência diante do completo que até hoje me assombra, fazendo com que eu perca o gosto pelas coisas que posso finalizar. Não sei se vou aparecer aqui escrevendo já tenho 999.999 crônicas na minha coleção, acho que sou muito mutante para me fixar a mesma coisa durante tanto tempo. A solução é não contar. É isso. Assumo aqui um compromisso de que só vou contar as crônicas até a nona dezena mais nove, pois o numero seguinte me faz pensar que cheguei ao fim. Não quero me aproximar do fim, ou melhor, não quero pensar que ele existe. Não quero colecionar para competir com meus iguais, até por que acho difícil achar um comum a minha coleção. A quero unicamente para ter uma, para reler futuramente coisas que me foram de uma importância inteligível. Palavras que foram fundamentais para que eu formasse a minha frase, o meu parágrafo, e quem sabe um dia minha crônica.
(31.7.05)

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Amigo_Anthony Strano

Amigo é alguém que fala ao nosso coração.
Mesmo se houver uma diferença nas habilidades,
papéis ou posições, há uma visão de igualdade que não permite nenhum
sentimento de superioridade ou inferioridade.
Há tal proximidade respeitosa que um não invade a personalidade do
outro.
As fraquezas são vistas como algo alheio que, na hora apropriada,
deixarão de existir.
Você não necessita provar-se para um amigo,
pois você é amado como você é, e o que você é basta.

O Ponto Alfa - Um Relance de Deus
Organização Brahma Kumaris, 1999.

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Desculpe a solidão

Desculpe a minha invasão, é que a solidão esqueceu de bater. Ela veio assim, e parou diante de mim como quem procura abrigo. Fiz o que pude, disse que não tinha tempo, mas ela disse ocupar somente o suficiente, disse estar por perto quando eu menos esperar. Esteve. Está. Ancorou, e se faz presente quando essa música toca, quando o vendo seca a água que a chuva entornou, quando alguém fala que ama, quando olho pra essa tela, quando me curvo diante do mal necessário, quando sou avisada tempos depois que a oportunidade já passou, quando a caneta cai sequida do lápis, quando alguém desvia o olhar, quando leio livros de auto ajuda que incitam o positivismo, quando ele demonstra se importar com todos menos comigo, quando finjo não ouvir, quando olho pra janela e a vejo fechada, quando minha cortina balança com o vento gelado do ar condicionado, quando minha luminária não acende, quando a ligação cai, quando o dinheiro é pouco, quando as palavras não explicam, quando me vejo na madrugada, quando a almofada salta da minhas mãos, quando minha cama está por fazer, quando o papel acaba, quando a toalha está molhada, quando a luz acaba, quando não encontro uma roupa, quando o ventilador derruba as poucas fotos do meu mural, quando os cachorros não latem, quando a comida não me agrada, quando a casa está vazia, quando a casa está cheia, quando a casa está, quando eu estou, quando, quando, quando... Sempre

terça-feira, 15 de novembro de 2005

A verdade é feia

Ando... Na verdade não ando, estou. Estou tão inquieta que não me acho nos meus pensamentos. Parece que aguardo por um ilustre e surpreendente acontecimento. Como se estivesse faltando os longos 5 minutos para que eu finalmente me desencontre. Para que eu me encontre, no palco, com a realidade de um outro que não me é tão desconhecido. É isso. Sinto falta dessa contagem regressiva. Sinto falta do barulho de pés inquietos sob a tábua já exausta de tantos acontecimentos temporários. Uns até duram alguns meses, mas nada faz com que se sinta menos usada. Sinto falta do cochichar por detrás das longas cortinas. Parece que o mundo ali atrás é outro. Parece que de fato o mundo parou pra que eu descesse. È um lugar mágico, encantado, e por mais que não seja alegre no todo, é bonito. Uma beleza que me esforço para descrever. O belo não é facilmente retratado, ele é.
Eu precisava falar pra mim o quanto essa saudade me incomoda, ela me serve de justificativa para uma infelicidade que eu busco dia pós dia. Antes de dar continuidade a esses lamentos covardes, vou tentar descrever essa beleza que poucos conhecem.
Era bom observar a ansiedade de todos ali, enquanto ninguém podia ver. Interessante observar a forma com que cada um exteriorizava essa inquietação. Essa vontade de se mostrar nos próximos segundos no mínimo belo. Uma beleza que transcende o físico. Uma beleza que a mentira encobre sempre que tem tempo. Ou que o tempo encobre com a mentira. Depende dos olhos de quem não vê. Falo da verdade. Falo da nudez, da transparência que não enxergo mais. Quando estamos lá atrás somos alguém de verdade. É pedir demais que sejamos nós mesmos. Somos apenas alguém. Sentimos por alguém. Gostamos de um alguém que este alguém gosta. Nos frustramos com as desilusões desse mesmo. Caímos da altura que for, nos arriscamos, sem medo dentro deste alguém. Amamos sem artimanhas e maquiagens. Simplesmente amamos. Simplesmente também, odiamos. E ponto. É até engraçado observar no outro a simplicidade que a "verdade" esconde. O mundo seria mais puro se cada momento fosse preenchido com a beleza sem desculpas. Ela que hoje nos é obscura. O que era verdade, mente. O que era belo, enfeia. Admito que faço parte dos que só sentem quando ninguém está por perto, dos que se mostram supostamente melhores do que são, dos que se distraem com canções que propagam a mentira que idealizamos. Essas nos mostram uma realidade distante e utópica, abrigam verbos que jamais poderemos conjugar. Gostamos disso. Gostamos de parecer belos, quando na verdade estamos ridículos, pois o outro também quer parecer, e ambos sabem que não são.
Essa verdade que buscamos só se faz presente quando todos pensam ser mentira. Quando alguém diz que mente, acaba de se tornar um ator. O ator faz que mente. Nós fingimos acreditar que tais coisas são possíveis. Na ausência de amor próprio, e na necessária elevação do ego, busca-se amar um outro dentro de si mesmo. Unindo a verdade e a mentira, o belo e o feio.
(13.9.05)

Sobre as palavras_Sergio Fonseca

"Andei perdendo palavras por aí. Talvez por falar em excesso elas me faltem agora. As que saíram aos gritos duvido que voltem. Escaparam e deixaram vítimas durante a fuga. Uma pena. Mas em esforço de guerra dizem que perdas são justificáveis. Nunca acreditei muito nisso.

Andei perdendo palavras por aí. Talvez por ficar em silêncio elas me sobrem agora. E por serem excesso ocuparam o espaço antes reservado ao agrupamento ordenado delas. O crescimento desordenado de palavras é mais perigoso. Jamais pensei na possibilidade de um motim de palavras.

Andei perdendo palavras por aí. Das soltas e guardadas. Algumas entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Outras entupiram narinas e muitas desceram pelos olhos.

Ainda ontem me olhei no espelho e vi que engordei. Ando comendo palavras saturadas. Um perigo. Preciso perder peso, perder palavras para reencontrá-las".

Mala cheia

"E no meio de tanta gente eu descobri você"

Sabe quando você quer de alguma forma se encaixar numa música que nunca foi nem parecida com nenhum momento da sua vida?
Pois é. Me sinto quase sempre assim, parece que a música imagina sempre mais, ou nos remete a imaginar. Parece, nesse instante, que sou a última das últimas e que só eu que não dispuz de momentos tão esplêndidos. Só eu que não funciono, que não encaixo, que não sirvo.
O pior é que eu não encontrei ninguém, e todo mundo parece ter encontrado. Não sei se eles se fazem parecer, o que é muito possível, já que a festa do outro apartamento é sempre melhor, ou se eu que compartilho de desencontros comuns.
Fico querendo descobrir esse alguém que me parece ninguém.

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Sonho

Há pouco tempo tive um sonho. Mas não era algo subjetivo, nem algo que vinha do meu mais puro e inteligível desejo. Não era nada que eu gostaria de alcançar. Acho que pelo fato se ser impossível, falando cientificamente. E eu, que ando sentindo um certo desconforto quando me falam de utopias ou valores ideológicos, me senti completamente à vontade numa situação que me era estranha, e que pra mim se tratava sim de uma vontade que fora encoberta pela pura ausência de probabilidades lógicas. Parece contraditório, mas a vida me fez assim. Não sei como. Voltando ao sonho, era como se eu fosse dona da minha história de fato. Eu consegui ultrapassar tudo aquilo que me falaram que eu nunca deveria nem observar de longe. Senti-me livre. Senti-me humana, é isso. Quando acordei, fiquei pensando se aquela não era a realidade de fato. Estou me fazendo essa pergunta até agora. Acho que é porque gostaria que fosse. Tudo fazia sentido, mas nada tinha coerência. Naquele momento era eu e o universo, sem desculpas ou interferências que justificassem aquele momento. Ele não tinha justificativa porque era puramente emocional. O puro não se explica, se sente. E eu senti. Palavras não me bastam. Nada me basta. Pela primeira vez me senti completa, original, autentica. Pela primeira vez me senti. Era apenas eu, o universo e a lua. O universo era meu meio; a lua meu fim; e eu, era tão importante quanto um dia quis ser. Era grande, determinada. E voava. Voava em direção a algo que eu tinha medo de alcançar. Fazia uso de desculpas inúteis e racionais para não atingir meu fim tão depressa. Pela primeira vez também, me contive para glorificar o fim. Para saboreá-lo melhor. Para ter tempo de digeri-lo. Para ter tempo de entendê-lo, resguardá-lo, valorizá-lo. Queria alcançar o significado da palavra valor, que sempre me foi tão efêmero. Queria me encaixar num valor que fosse eterno, para nunca vê-lo cair sob minha cabeça depois. Nessa busca eu via esse valor, algo imcomprável, indescritível e indescartável. A lua e olhava como quem diz: ¿Vem!¿, e eu queria ir... O universo me empurrava, como se fosse o destino querendo me mostrar o lado bom da vida, o lado puro. Eu pude ver o sentido, a verdade, e tudo que já tinha desacreditado por pura incompetência. Eu via uma luz. Era a lua. E essa luz também me via. A lua me via! Ninguém nunca foi visto pela luz, muito menos pela lua. Eu fui. Ela me chamou pra ficar com ela, e eu tive medo. Medo da felicidade. Medo da minha inferioridade diante dela. Mas eu não era inferior. Eu era importante pra ela. Ela queria minha presença. Eu senti. Não sei explicar. A lua é a única que ilumina sem pedir nada em troca. Ela é a única que olha por todos. Eu fui a observando enquanto subia. Olhei no fundo dos seus olhos. Achei o que buscava. Continuei subindo. E subia... Mas tive medo. Medo de me iludir, medo de cair, medo de acordar. E acordei. Ou durmi? Ainda não sei.

Quem me dera

Quem me dera que todos os meus problemas dependessem da minha equação.
Quem me dera que os erros de hoje me imunizassem dos de amanhã.
Quem me dera que tivesse o dom de amaciar as palavras.
Quem me dera que entendesse que às vezes elas precisam ser duras, mesmo que doa.
Quem me dera que o arrependimento pudesse escrever um poema.
Quem me dera que não houvesse passado.
Quem em dera que alguém escutasse minhas palavras que nesta hora silenciam.
Quem me dera que eu pudesse entender o porquê da fala.
Quem me dera que eu não me ouvisse.

Além

Gosto quando você ri das coisas que digo.
Acredito que no fundo você sabe que esse era o retorno que eu esperava. E ri, assim como quem acha graça, quando na verdade só quer me agradar.
Pouco sabemos um do outro. Mas digo que sei o bastante para comprovar a metafísica.
Muitos poetas confiam no olhar, pois eu arrisco a minha confiabilidade ao que meus olhos não podem ver. Cansei de dar crédito ao físico. Quem disse que o que os olhos não vêem o coração não sente? Penso que o coração não é subordinado a nenhum sentido sequer. Ele é o único que ultrapassa as leis, a razão, o mundo físico. Ele prevê, nos mostra uma verdade que mora além do que os olhos podem ver. Nos mostra o percurso que a nossa visão deve fazer.
Não sei o que você quer de mim. Na verdade não me sinto capaz de servir-te de amparo. Parece que você é meu escudo. Sinto-me frágil quando penso na possibilidade de me colocar às suas costas. Sou pequena ao seu lado, não me vejo à sua frente, e por incrível que pareça: gosto disso. Gosto de buscar em você as palavras que agora me fogem. Seu esforço para que eu encontre é quase que insignificante perto do que posso ver sem que você note. Vou assim, aos poucos me especializando em te descobrir, te estudo e busco no seu desinteresse o que me interessa. Busco nos seus erros os meus acertos.
Tudo isso acontece sem que eu controle, sem que eu me de conta de que essa inocência em relação a você tem feito com que eu encontre as vírgulas que até hoje eu fiz questão de ignorar. O seu jeito de ouvir o que eu digo, de atender aos meus pedidos mais infantis, me fazem perceber o quanto você quer que eu me sinta grande. E é exatamente isso que me faz cada vez menor. Percebo nos gestos mais minuciosos a sua disposição para que eu encontre um anteparo, uma pausa, uma vida como você diz (E eu acho graça. Como sempre). O seu sorriso desconcertado me fez buscar um tempo meu. Enquanto você concerta o seu sorriso, eu admiro sua capacidade de compreensão, que também não é o meu forte.
Agora me deparo com a sua voz, que me soa engraçada. Eu rio. Rio assim como você ri de mim quando já espero. Em meio a tantas vírgulas que você me fez encontrar, a tantas fraquezas que descobri, me pergunto se o meu sorriso igualmente desconcertado te parece um agrado também. Fico na ansiedade, esperando uma resposta que sei que não virá. Fumo um cigarro para não devorar a geladeira. Sei que não gosta, mas faço questão de te contar. Acho que é uma forma de chamar sua atenção, de te manter sempre atento, de ouvir seus conselhos preocupados, de tentar descobrir no seu jeito de falar o que se passa na sua cabeça, de tentar te conhecer a ponto de saber se você imagina que o meu sorriso destemido é mais uma estratégia para controlar o medo que vejo de um dia te sentir pequeno.
O que o coração não sente os olhos não vêem.

Meio

O tempo esta passando cada vez mais depressa. E eu me sinto mais e mais distante do que sempre almejei. O tempo passa apressado. Não me espera, e nem me pergunta o que eu quero, o que me faz bem. Os planos que fiz há um ano atrás caíram por terra juntamente com meus ideais. Era tão bom ser criança...
E eu estou aqui. Numa sala repleta de pessoas que penso conhecer, que penso gostar, que não pensam como eu gostaria que pensassem. Pois é. Me deparo com um estado que jamais pensei um dia estar...

Gosto de ser aquela.

Prefiro abrigar-me no passado á correr o ímpeto risco de vislumbrar o desabrigo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Eu espero

E mais um grito mudo...
As palavras de nada me valem.
Só me fazem enxergar o quanto o mundo é covarde, utópico e até bonito sem elas.
Tudo está perfeito, até que elas apareçam e acabem com o resto de ilusão que resta.
Gostaria que tudo fosse mais fácil...
Gostaria que as palavras falassem menos...
E que o silêncio gritasse aos quatro ventos... "Eu quero você".
Eis que ouço mais do que devia:

_Não dá... É difícil, mas não dá...
_ Posso enjoar daqui a uma semana, um mês, porque eu sou assim...

E eu? Como sou?
Não sei mais. Já esqueci.
E não quero lembrar.
Quero me reinventar.

_ Quer que eu me feche pra balanço e espere pelo seu tempo?

Não me importa a resposta.
Isso não é bem uma pergunta.
As perguntas ouvem mais.
Eu não quero ouvir.
Nem falar.
Não me interessa o que te interessa
Eu espero, quer você queira, quer não.
Prefiro acreditar que quer.
Você quer?
Você nunca responde mesmo...
E mesmo que responda, você finge.
Diz ser ator, eu não acredito.
Mas gostaria que fosse.
O ator fala mais que deve, silencia mais também

Você quer longevidade, mas não sabe o que é isso.
Teve a audácia de me negar seu tempo, e eu só te pedi uma noite.
Te espero a cada noite que passa.
Elas passam e levam consigo um pouco do que eu tinha pra te dar.
Espero que nem tudo se perca.
Muito menos você, porque eu já me perdi quando te achei.
Espero que você me encontre a tempo.
Que você me encontre antes que eu me ache,
Antes que você se perca.
Espero que o tempo te encontre,
E te avise depressa
Que ele está com pressa;
Que nada pode ser recuperado, embora você insista em tentar;
Que a vida tem duas portas, e você insiste em entrar na errada, enquanto que a outra espera que você pelo menos se aproxime, para que ela possa te mostrar a cor que você ainda não conhece;
Que seus 20 anos não vão ressurgir das cinzas;
Que cabe a você não ter que voltar atrás novamente.
Acho que você gosta de desrrespeitar o tempo.
Anda tão preocupado com planos, que esquece que existe um tempo que independe da nossa vontade.
Não tem tempo.

Com o passar das noites vou me angustiando por subordinar o meu tempo a alguém que é escravo de "good times".


O tempo não espera. Eu sei disso.
Você insiste em controla-lo, e eu em te refletir.

Te espero mesmo sabendo que você espera pouco de mim.

Sem mais.

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Idade

O novo me atrai, me faz pensar como seria se ele se fizesse rotineiro. Tenho que acreditar que dessa vez ele vai conseguir se estabilizar nesse mar de desilusões, ou ilusões, tudo depende do tamanho do ângulo. Quanto maior é, maior é o risco de dar certo, ou errado. Com isso, buscamos o medo que nos vai ser útil outrem. O medo nos aborda. Só ele consegue se fazer presente. Só ele consegue acompanhar meu passo. Esse passo desconcertado que me induz ao erro. Quando erro o passo, alguém se esforça para que eu aprenda, alguém nem nota, alguém finge não ver, alguém acha que errei porque quis, mas você, você diz que eu não sei dançar. Digo que sei, mas por fim tenho que admitir a sua certeza. Sou amadora aos seus olhos. Não tem arma que te atinja. Tento desafiar, mas tudo parece pequeno perto dos seus olhos. Você dança melhor que eu. Ao sentir o calor dos seus olhos, uma diversidade de sensações me dominam. Eu me sinto nua diante dos seus olhos, parece que você vê o que nem eu enxergo. Você me olha num ângulo que ninguém jamais ousou olhar. Eu faço de tudo pra que você note a minha força. Mas você entrou em mim, me desmascarou como uma droga que invade sem pedir licença. Você tem certeza, eu acho. Você conquista, eu atraio. Você ouve, eu falo. Você racionaliza, eu emociono. Você encara, eu fujo. Você ama, eu apaixono. Você é maduro, eu infantil.

sábado, 5 de novembro de 2005

Desencontro

Ela ocupa toda a cama. Ele ocupa o que lhe sobra.
Ela acorda. Ele se espalha pela cama.
Ela se arruma. Ele acorda.
Ela reclama da toalha molhada sobre a cama. Ele faz que não ouve.
Ela pede mais espaço no espelho do banheiro. Ele se retira.
Ela diz que diz que deveria ter se levantado cedo já que resolvera se arrumar tão lentamente. Ele se apressa.
Ela o espera inquieta. Ele a canta.
Ela pede que diminua o tom de voz. Ele continua a cantar baixo.
Ela o olha com impaciência. Ele a olha como quem pede.
Ela o cede um beijo indireto. Ele se aproxima procurando verdade.
Ela desvia o olhar. Ele inflama um suspiro, ajeita a gravata, pega a pasta e sai.
Ela se vê parada diante da porta. Ele chega no trabalho.
Ela sai. Ele liga.
Ela não ouve. Ele desvia sua atenção.
Ela chega. Ele liga novamente.
Ela atende como quem já se acostumou a ser lembrada. Ele pergunta.
Ela responde. Ele desliga.
Ela chega. Ele colhe uma flor.
Ela toma banho. Ele chega como quem nunca se desiludiu.
Ela observa com a maturidade de um pagão. Ele toma banho.
Ela deixa a toalha sobre a cama. Ele a coloca no lugar.
Ela ocupa todo espelho do banheiro. Ele não quer se olhar.
Ela se veste lentamente. Ele põe o travesseiro sobre o rosto.
Ela o canta. Ele faz que dorme.
Ela o beija. Ele se mantém estático.
Ela vira de costas. Ele a olha e lembra do tempo em que os encontros eram comuns.
Ela dorme. Ele vira de costas.
Ela ocupa toda a cama. Ele ocupa o que lhe sobra.

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Tudo bem?

Tenho escrito pouco... Acho que estou numa fase não tão utópica a ponto de ser escrita. Só os iludidos escrevem, e eu não me permito mais iludir. Estou num momento em que perguntar "Como você está?" sôa irônico. Eu não quero saber, mas pergunto, e tenho a resposta de sempre: "Estou bem". Mentira! Ninguém está tão bem quanto quer parecer. Eu mesma nem tenho mais vontade de responder à perguntas tão hipócritas como essa. São ridículas e demonstram uma preocupação falsa. Ninguém quer ouvir: "Estou mal". É desconfortável, e pagamos o preço que for pelo conforto. Eu pago. Parece redundante. É, e eu não me importo com isso. Só me importo com a desimportância que tem essa pergunta e com a minha hipocrisia de responder sempre a mesma coisa. Como posso responder o mesmo há 18 anos se tudo sempre é tão diferente? Não sei. Na verdade cansei também de não saber. Queria poder devorar todo e qualquer conhecimento que não pudesse, me alimentar de novidade, gozar com cada página nova, saber mesmo que por uma frase o que se passou na cabeça de quem a escreveu. Saber porque tal coisa é de tal forma. Besteiras. Formas tão idiotas de preencher a vida que eu me vejo agora sem chão, idiota e tão desencaminhada quanto essa pergunta que como já disse não serve de nada. Sou como ela e a minha resposta, lógico, só poderia ser tão vazia quanto eu. Porque quero preenchimento se a vida me quis sem? Por isso vejo tudo tão vazio. Os meus olhos estão vislumbrando o que se passa por dentro. Não sei porquê as vezes quero ser o que não sou. Não sei porquê não sei as regras da língua portuguesa, se tratando principalmente desse "porquês" que eu nunca sei usar. Pode ser que com esses erros eu responda ao invés de perguntar, e a questão é exatamente essa: as respostas estão nas perguntas.
Poderia passar aqui toda a madrugada falando de coisas que só fazem sentido pra mim. Eu não quero que ninguém entenda. Não tenho apreço por ser entendida. Já perdi o resto de ilusão com relação a isso. Todos estão muito preocupados em parecer, que acabam não sendo. Acabam não encontrando o ser do outro, encontram o parecer, que é tão óbvio quanto colocar uma pergunta pós-resposta que seria: "E você?".
- Eu vou mal, e você também.