quinta-feira, 6 de novembro de 2014

tempo tempo tempo

algum tipo de reflexão nesse (quase) mais um ano de vida/ inferno astral:

o seu tempo + o meu tempo = nosso tempo

Esse "nosso" acontece frequentemente em encontros de trabalho, algo que a gente escolhe, mas permanece muitas vezes por algum tipo de obrigação.
A permanência é um luxo.
Acontece também em aniversários.
É muita gente que a gente conhece
Muitas outras que a gente desconhece
É muito pra sempre virando nunca mais
Muita palavra sobrando
Muitas escolhas
Mais palavra sobrando
Muitos tamanhos dilatados 
Muita importância pra si, de si, em si


Tudo isso pra falar sobre a importância, a importância de estar onde se quer, com quem se quer, no meio dessa coisa enorme chamada tempo.
Tome conta do seu tempo,
porque ele passa,
e muita gente vai embora, inclusive você.




segunda-feira, 27 de outubro de 2014

coisas casuais?


Agora, hoje, eu venho aqui escrever alguma coisa, qualquer coisa em primeira pessoa mesmo, assim, o mais inteira possível pra tentar codificar essa coisa toda desconhecida que ta nascendo dentro. Há algum tempo eu não leio nada que me comova, não consigo ficar mais que 5 minutos numa página de livro, tem os contos, e mesmo eles, aqueles que eram muito meus não me representam mais. E agora pra escrever eu decidi ouvir Los Hermanos: Assim Será, coloquei no aleatório, essa veio, e logo em seguida: Adeus você. Sendo assim, isso aqui, esse bando de palavras pode ser lido, e em seguida, ou no meio (mais tarde eu resolvo sobre isso), a música pode ou deve ser ouvida, porque cada vez mais eu sinto que nada dá conta. É tudo invenção. Tudo. Tudinho. Quando não é, é chato, daí a gente nem considera. A gente seleciona os pontos altos, e o que há de mais poderoso é o que a gente cria. A gente cria gente, cria amor, cria situações mais bizarras, a gente transforma essa coisa de realidade (que aos poucos e pelas beiradas vai comendo tudo). E o que acontece quando a gente percebe que mentiu pra gente mesmo? Não sei. Por isso esse bando de palavra. De maneira geral, bem geral mesmo, eu to enjoada de palavra, só de escrever aqui meu estomago já começa a doer, só de ver aquela menina toda frágil querendo me dizer uma série de coisas, querendo me ouvir, querendo tudo verbal, me deu preguiça, mas assim, uma preguiça que interrompe qualquer tentativa de ouvir/dizer, não tem espaço pra esquizofrenia, alguém sentou no lugar da fantasia. O mundo de Sophia. Cansei de inventar, eu sei, eu vejo, agora eu vejo tudo tão real, tão sem cor, mas não é exatamente feio, eu só não to sabendo muito como andar, não to sabendo muito como e o que ser depois dessa descoberta. Eu não to falando só de amor, eu to falando de tudo, tudo mesmo, to falando de todos esses sentidos que aos poucos vão caindo por terra, to falando de todos esses amigos que vão desaparecendo um a um a cada ano, eu to falando desse quarto com esse papel de parede cheio de flor, eu to falando dessa purpurina que a gente coloca em volta, eu to falando do quanto a gente é estranho/potente pra criar tudo isso. A vida é urgente. Ela é real. Ela não tem cor. As coisas terminam como começam, mas logo que a gente escreve o começo já começa a rasurar, a gente começa a escrever por cima, a gente ultrapassa o que é legítimo, isso é o meio. Teve uma época que eu pensava muito sobre o meio, essa coisa de meio, alguém me disse que ele não existe, eu concordei, mais por não ter nada a dizer, mas agora eu acho que entendi, o meio é tudo que ta escrito por baixo, o meio é a tentativa constante de reescrever por cima até que o papel rasgue, o meio é a sustentação dessa mentira criada. É justamente por isso que depois do meio vem o fim, o meio cansa, o meio é esse desmascarar do que fica por cima, o meio não deve ser ultrapassado, deve-se aprender a viver nesse limbo, nesse equilibrar de tintas postas, na verdade não se deve nada, se você consegue ver por baixo da tinta forte, se você enxerga ali embaixo, se você tem o privilégio de ver algo que ninguém mais vê e esse algo não te agrada, use a ponte de acesso ao fim, não adianta insistir e riscar em cima, não adianta, nesse caso, é a primeira impressão mesmo. Por isso eu acredito que quanto mais bonito for o início, maior a chance do final ser o fim mesmo, deve ter alguma coisa haver com não entregar o jogo no primeiro minuto, deve ter haver com xadrez. Outra música, a de agora:

 

 

Senta aqui/ Que hoje eu quero te falar/ Não tem mistério não/ É só teu coração que não te deixa amar/ Você precisa reagir/ Não se entregar assim/ Como quem nada quer/ Me diz cadê você aí?

- ?.

Me diz o que te sobra além das coisas casuais?

- Joga tudo isso fora. O fato é que alguma coisa morreu, alguma coisa muito grande, alguma coisa que dava conta de me levantar de manhã, alguma coisa que me segurava nesse meio de ser eu.

 

RECEITA DO ANO:

Então, se você se perceber vivendo algo extraordinário, cuidado, tenta perceber se é do tamanho que te parece, olha bem, não dispersa, procura reescrever só algumas coisas, pouca coisa, não inventa muito não, mas se por acaso você se sentir impulsionada a escrever demais, talvez não tenha nada escrito por si só, talvez você esteja amando somente a sua competência imaginativa.


ATENÇÃO:


O grande risco é você sair reescrevendo tudo a todo tempo, a ponto da coisa se transformar em tudo que você sempre quis, esse erro é ainda pior, é com ele que você praticamente apaga a existência de um outro, você aborta o você, o outro e o que sempre quis. E quando você quer ver por debaixo, não tem mais nada.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sutileza(s) cotidiana(s)

E eu penso que tem tanta gente na rua, tanta gente que passa, que te olha com raiva, gente que te olha querendo entender, gente que não olha também, gente é uma esquizofrenia de Deus. Sendo assim, se você por acaso encontrar alguém, se por algum motivo precisar falar com essa pessoa, se você ouvir qualquer coisa que te pareça muito comum, se você percebe que gosta das coisas que ele diz, ou que não diz, pode ser da respiração, se você percebe que gosta da respiração dele, nada demais, aí você conseguiu, você descobriu uma espécie de amor, amor pelo jeito de respirar, se você encontra 3 formas de amor nessa pessoa, se você tiver vontade de ficar olhando pra ela enquanto ela dorme, aí a coisa já está mais avançada, mas eu digo, com esses três amores, eu, se fosse você, não soltava mais a mão dele, ou dela, não soltava até suar, até esse suor virar semente, até que ele se reproduza por aí, até que essa coisa saia de vocês, porque já não precisa, até que essa coisa precise gerar uma nova coisa.


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Dois velhinhos e uma noite fria

era uma vez 
uma menina 
que morreu 
sufocada de amor


desabafo da menina morta:

- é um absurdo, é assim, uma ironia da vida, a gente fantasia, imagina como vai ser, eu acho que eu não mereço, não mereço mesmo saber de um pedido de casamento abortado, saber que o anel de noivado que seria meu agora esta penhorado, realmente, realmente é uma baixaria da vida em relação a mim.

é assim: o seu pedido de casamento não existiu, ele venceu antes do prazo, ele está no Futuro do Pretérito do Indicativo.

regarde toi:

eu seria (pedida em casamento no dia 7 de junho)
tu serias (aceito como meu noivo no dia 7 de junho)
ele seria (convidado para padrinho no dia 7 de junho)
nós seríamos (noivos no dia 7 de junho)
vós seríeis (o homem mais feliz do mundo no dia 7 de junho
eles seriam (convidados para o casamento no noivado do dia 7 de junho)


Do verbo não será mais, do verbo ia, do tipo, as coisas aconteceram num contexto paralelo e você era o que menos importava em tudo isso.

e daí depois de tudo isso, como se já não bastasse esse desrespeito da vida, ela chega no ponto com um guarda chuva cereja, sim, porque agora tudo que era vinho virou cereja, e isso de fato, faz toda diferença, quando ela disse que detestava vinho, a sua mãe disse, mas não é vinho, é cereja, a partir daí ela passou a amar a cor, e hoje, por acaso, ou não, seu guarda chuva era cereja, ela vinha com ele, depois de ouvir sobre essa coisa do casamento que nunca existiu, ela veio com ele debaixo do guarda chuva vinho, vinho não, cereja, ela falou banalidades da vida cotidiana, e seguiram, até que no ponto de ônibus, no frio, assim, muito frio, lá pelas 10 da noite eles se deparam com um casal de velhinhos, assim, se fosse um filme, eles jamais achariam velhinhos tão velhinhos, eles eram mais fofos do que qualquer casal de velhinhos de qualquer filme, ou seja eles eram um exagero de velhinhos,

ele fechou o guarda chuva, 
ela chorou,
ela só conseguiu chorar.

Diálogo com os velhinhos encantados:

Velhinha - Vocês sabiam que o amor é lindo?
Ela chora.
Ele - Vocês estão juntos a quanto tempo?
Velhinha - 62 anos. E vocês?
Ela chora.
Velhinha - É, tem que ter muita compreensão, muita paciência, tem que passar por cima de muita coisa, se um afrouxa a corda o outro puxa. É assim, mas é muito bom.
Ele - A gente não está mais junto.
Velhinho - Mas se gosta porque terminou?

Ela chora.
O ônibus chega. 

Velhinha - Vocês tem que continuar. Não termina não, continua.

ela entra no ônibus e fica paralisada por cerca de 20 minutos, apática olhando pela janela, olhando as coisas passarem, tentando entender o que foi aquilo, tentando entender de onde vieram esses velhinhos, pensando que isso foi uma espécie de mensagem, ela lembra que a velhinha disse que ela parecia ter 18 anos, e ele 22, ela pensa que esses velhinhos não poderiam estar ali naquela hora, naquele frio, ela olha por muito tempo sem conseguir mover nenhuma parte do corpo, ela quase que não respira pra não perder essa espécie de encontro com Deus, ela deseja alguma resposta, alguma explicação pra tudo aquilo, ela fica sufocada esperando algum sinal, alguma luz que diga qualquer coisa que possa dar sentido àquela cena. porque aquilo? como aqueles velhinhos foram parar ali naquela hora, naquele frio?

até que ela entende alguma coisa, 
ela entende que eles não estavam mesmo ali, 
eles estavam dormindo numa cama bem quente, 
aquilo ali era outra coisa.



 - Nada é definitivo.


sábado, 24 de maio de 2014

chove?

e eu sinto, 
eu vejo que está todo mundo procurando sentido em qualquer coisa,
ta todo mundo correndo pra fora do vazio, 
ta todo mundo com medo que chova,
e o pior?
sempre chove.



acontece assim: tem um cara que não gosta do que faz, ele diz que precisa mudar de área, ele diz que está infeliz e que viveu processos depressivos, ele diz que as pessoas que conseguem se manter num trabalho que não amam se mantém por motivos outros, se mantém porque tem um filho, uma esposa esperando, ele não, ele não tinha ninguém, nada, então precisava mudar de área. 
isso foi a coisa mais triste que alguém já me disse.

teve um outro caso: um amigo passou 4 anos sem transar com ninguém. motivo? amor.

eu percebo também que depois de muita presença, existe uma falta que quase tira o sentido de tudo, uma falta quase suicida, assim, uma falta que invalida tudo que fez sentido até então, essa falta é parecida com a sensação pós droga, é muita felicidade pra muita tristeza depois, as pessoas não aguentam com extremos, ou melhor, eu, eu, quando tomei um ácido senti vontade de comer, morder, beber o mundo, mas o mundo não coube, daí no dia seguinte a frustração de não ter dado conta se misturou com um esvaziamento, gerando uma fraqueza, uma incapacidade diante do mundo, uma vergonha de ter fracassado diante dele.
não dá, e quando não dá tem que comprar um número maior, ou menor. não dá. esse não dá. não. não é não, isso quase nunca muda.


- o mundo não cabe dentro de você, menina.

- ta na hora de pensar no que você tem.


- eu tenho gastrite nervosa. 
serve?



um espirro. 
tudo acontece no tempo de um espirro.

eu vim escrever pra tentar clarear algumas coisas na minha cabeça, mas 
eu já não me lembro mais o que eu dizia.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

céu coral

e aos poucos eu me liberto do vício de compartilhar
mas o cigarro continua
já já eu me
eu gosto quando o céu assume uma cor de
eu vi um céu ás 6 da manhã, ele era só meu
eu li agora
só eu li
eueueueueueueueueueuueueeueueuueueueueueueueuueuueueueueuueueueueueueueuueueueue.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

trato.

Eu não vou mentir que me dá um aperto no coração toda essa atividade longe de mim, eu não só preciso entender e aceitar que esse foi só o primeiro de tantos apertos que virão, de tantas perdas que as escolhas trazem consigo. Eu quero que tudo dê certo, quero que tudo ande, pena você esquecer de agradecer as pessoas que acreditaram, mas não estão. Quer saber? Eu realmente não devo me ocupar disso, o mundo ta cheio de gente fazendo coisas, muitas coisas, e vão, outras não, eu vou fazer o que eu puder, eu vou andar como puder, e eu sinto nesse momento falta daquele começo antes de quase tudo, falta daquele pulso do início, daquelas ligações quase inocentes fora de hora, daquele medo de dar errado, daquela expectativa sobre dar certo, eu sinto falta da inocência, cada vez mais falta, na forma como tudo naquela época era futuro, e era neutro, quase branco. Tem a menina que ganha um girassol e não agradece, que te olha como se você fosse uma espécie de bandido criminoso matador estuprador de mocinhas virgens, ela realmente não entende nada, ela não sabe nada, e não quer saber, ela só quer saber de não lavar a própria louça, ela como quase todo mundo esta cuidando de jogar pedra no telhado dos outros, mas e o dela? Já caiu faz tempo. Eu tenho visto muita coisa passar por mim, eu tenho visto cada vez mais pessoas passando por mim, eu tenho reparado nas coisas que ficam lá atrás e nas coisas que permanecem mesmo quando já foram, nas coisas que insistem, tem amigo por toda parte, mas não tem não.

Eu quero dizer que não se anda pra trás, não se brinca com o tempo e não se levanta duas vezes.



- Eu sigo.

Saco cheio de quem super valoriza o que fez, 
saco mais que cheio de quem ainda não fez e já supervaloriza, 
saco estourado com quem supervaloriza qualquer coisa.

- você ta vendo aquela placa?
- claro.
- não parece.
- a placa?
- você não parece.
- não pareço com a placa?
- não segue a placa.
- eu sigo. não vê?
- não.
- eu só passei aqui rapidinho pra ver o que eu tava perdendo.

Agora me faz um favor?

Trata de não olhar pra trás, trata de seguir como se tudo sempre fosse desse jeito, trata de acreditar no fluxo da vida, trata de matar todos os cupins da porta, trata de comer melhor, trata de falar menos, trata de não escrever asneiras em redes sociais, trata de visitar sua família, trata de ligar pros seus amigos, trata de fazer o que você gosta, trata de voltar pro seu sonho, trata de ler mais livros, trata de passar menos tempo no facebook, trata de trocar a sua foto do perfil, trata de enfrentar a fila do mercado, trata de aprender a dizer obrigado, trata conservar os bons amigos, trata de saber do seu potencial, trata de correr junto com o tempo, trata de resolver o problema no dente, trata de falar mais baixo, trata de renovar a carteira de motorista, trata do teu machismo, trata de tirar o visto pro Canadá, trata de fazer uma atividade física em grupo, trata de juntar mais dinheiro, trata de ajeitar aquela cozinha, trata de concertar aquele banco manco, trata de lavar a roupa toda semana, trata do seu medo do inesperado, trata de comprar mais cuecas, trata de aprender a tocar violão, trata de fazer essa barba, trata de reclamar menos, trata de comer mais verduras, trata de contar menos piadas, trata de perder essa barriga, trata de fazer sua comida, trata de trocar de telefone, trata de achar menos, trata de ficar acordado até tarde, trata de fazer as pazes com o silêncio,
.
(ou) não trata de nada disso,
.


trata de você, trata de me desamar, trata de comer o que você gosta, trata de escolher o que quer fazer, trata de dormir sem tomar banho, trata de vestir listrado com quadriculado, trata de falar pelos cotovelos, trata de viajar pra fora do país, trata de largar a faculdade, trata de mudar de cidade, trata de falar bem alto, trata, 


mas se não quiser, não trata de nada disso.