domingo, 8 de abril de 2007

a mudança é a felicidade

preciso agora narrar um grande encontro, digno de um roteiro de cinema.
sabe quando as festas são comuns sem que nenhuma das partes tenha se esforçado para tal?
tinham hora marcada, mas o tempo dessa vez colaborou e os colocou juntos antes mesmo do merecido. se encontraram numa festa de amigos em comum, únicos até eu diria. uma dádiva...
"supeitos de um crime perfeito"

os olhares cruzavam por alguns segundos descabidos, era quase um transe, um êxtase comum, vontade de correr dali naquele instante, não podiam, tinham hora marcada, um com o outro, e ai de um se ousasse interromper o combinado do outro. era um compromisso e tanto.
a festa era bonita, as pessoas incomuns, mas tudo tinha música, harmonia, colírio. os
anfitriões eram finlandeses, tornava-se obrigatório a pintura de ovos de galinha mesmo, é tradicional, eles retiram a parte interna e pedem pra que todos os convidados registrem
seus dotes ali mesmo, num ovo. era quase páscoa, eis o motivo, muito bom por sinal, artístico eu diria.
ela pintou seu momento, ele refletiu seu vício por ordem, tão óbvio que ela mesma poderia ter pintado que todos pensariam ter sido ele.
existiam frases soltas:
- A noite vai ser longa...
- Será?

sorte dela se flor.

ele resolveu parar com a bebida, foi até a cozinha pegar um refrigerante.
ela entendeu o recado e foi buscar água. ele voltou á varanda pra buscar copo, ela
bebeu no gargalo mesmo. tão diferente que até parecia vertigem.
no meio da sala, seguindo caminho oposto ela fala no meio de todos, mas era como se ninguém existisse, ninguém ouvia, não tinha fala quase, era um silêncio composto de uma articulação comum a essas duas almas apenas.

- Vamos embora?
- Vamos?
- Haham.

- Vou indo porque vou pegar uma carona com ela.
vale lembrar que existia uma ponte entre os caminhos.

o sentido não importava muito, eu acho.

despedidas seguidas de mensuras para que ficassem mais um pouco. não dava, era cansaço
demais.

ela decide ir no banheiro e o encontra a abrir a porta pra sair.
meio sorriso de um lado.
meio de outro.
sorriso completo.

foi difícil, mas finalmente livres. o barulho da porta sendo fechada, do elevador se
preparando pra subir, um beijo, dois, três com vontade de ser bem mais, vontade de desafiar
o tempo. o elevador chega e nada se modifica, agora de fato eram culpados. o elevador parou no primeiro. ops, lugar errado. a saída era na garagem. ela havia dito, mas ele estava muito ocupado pra ouvir. o elevador volta a subir. um dos dois atenta para o ocorrido, mas ninguém ouve, nem mesmo quem disse. o elevador pára exatamente no andar da festa dos ovinhos, entra um casal estrangeiro, um dos muitos que por lá estavam. nos comunicamos na medida do possível, sorrisos comuns, motivos bem diferentes. e mais uma despedida com perguntas em excesso.
o carro era quase uma carta de alforria, um grito no escuro, um sopro de luz.
o sinal fechado nunca fora tão querido, era como quase tudo gratuito, um instante de desordem.

finalmente chega-se onde deve, por acaso ou não, as mesmíssimas paredes daquela última vez. um dos dois pergunta se não será o fim. acontece que a pergunta era filosófica demais comparada a um momento tão prático.
nunca foram tão um do outro.
uma vontade de eternizar naquele exato.

nenhuma palavra conseguia falar, num primeiro momento tudo era silêncio.

alguns sorrisos tão cabíveis, bonitos. dormiram até, uma prova, seja lá do que for.

as palavras trocadas entre um momento e outro pouco importam. aquele encontro se fez
de silêncios coincidentes, confidentes, surpreendentes.

"não foge de mim. a mudança é a felicidade"

parece tudo mentira. acredito que seja mesmo. instantes como esses deveriam ser pintados em ovinhos.