quinta-feira, 6 de agosto de 2015

aspire-se

- por que é que você me pede tanta aspirina?
- é pra eu não me doer.
- como é que é? hein? você se dói?
- eu me doo o tempo todo.
- aonde?
- dentro, não sei explicar.

aliás, cada vez mais ela não se sabia explicar (...)

............................................................................Clarice Lispector

Macabéa o nome dela.
Depois há quem diga que ela era um ninguém perdido no mundo.

terça-feira, 21 de julho de 2015

entre 28 e 30

é como se minha alma não tivesse nada a declarar. ela ta solta. ta perdida entre 28 e 30. nem uma coisa nem outra. tem alguém parado no meio. tem uma pessoa que diz que até os 28 sua vida vira do avesso e você se pergunta, que avesso? que mais? quantos avessos mais? falta pouco tempo pra virar, se não virou, não vira mais? dá um certo pavor essas frases de efeito. na realidade a gente nunca sabe quando é que esta dentro de alguma coisa ou fora, a gente acha que, a gente decide que, a gente cria tudo, sentido. você chega aos 28 ainda falando sem querer que tem 26, você não chega nunca, você ta prestes a se tornar alguma coisa que você não se reconhece, você não pára no espelho por mais de 1 minuto, você passa muito tempo esperando alguma coisa. a coisa chegou. e você ainda não. difícil se admitir no seu lugar, com suas escolhas, na sua idade, com seu corpo, com seu cabelo, sua pele, sua voz, seu tamanho, sem mudar nada, uma mar parado. ela me disse que isso era felicidade. Sempre penso nisso, ela nem faz ideia, as pessoas estão tão de passagem que não fazer idéia do quanto estão na gente. cada vez mais televisão, anestesia, uma coisa meio andy warhol misturada com não sei mais quem, não tem mais referencia, não tem muita surpresa, uma fase em que as coisas estão quase organizadas, como se fossem agora durar, e eu me vejo vagando como zumbi nesse lugar cheio de ordem como se eu fosse um tipo desses que se droga, cria coisas geniais e morre aos 27. hoje eu entendo. mas eu não, eu não nada disso.
socorro.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Vai pedir o que?



 

Existe um cardápio de gente, existe gente olhando esse cardápio, existe um monte de coisa que a gente sente, mas existe a cabeça, existe a cabeça, existe o pé também, o pé ás vezes abre, abre caminho, abre ferida, o pé faz andar, faz parar, porque ás vezes não tem metáfora, tem só o que é, tem a vida real, tem a fantasia que vai pro ralo, tem esse cara que olha e não vê nada, um olho que quer muito, que quer tudo, um olho de quem nunca teve nada escolhido, um olho que não se reconhece no que tem, um olho que não se sabe, ele está? está fazendo a dieta da proteína, ele não come massa, não come farinha branca, não tem energia pra quebrar, um corpo viciado em apontar, um corpo que não espera pelo o outro, um corpo que não troca, só recebe, um olho que olha e não vê, um excesso de verbo, uma gente que fala até perder a razão, uma gente que gosta de criar castelo, uma gente viciada em destruir castelo, os seus, o dos outros, tudo junto, muita gente sobrando pra muita gente faltando, e tem esse olho, esse é o olho de um homem que quer uma mulher, é o olho de um homem que foi avassalado por um vaga-lume, ele ficou, parou um pouco, perdeu a hora, perdeu os sentidos, perdeu o calor do corpo, perdeu certezas, perdeu o que já não tinha, perdeu o que tinha sem querer mais ter, perdeu, ele perdeu muita coisa pra se ganhar, ele se ganhou e foi embora, ele falou até não poder mais, até que calou, caçador de vaga-lume, olho de quem não sabe o que fazer com tanto mundo, olho de quem não dá conta do que vem depois do grito, olho de quem precisa ser capturado por qualquer coisa sem sentido pra não se perder, olho de gente que jogou o relógio no mar, olho dessa gente toda cinza que anda por aí escolhendo o que comer no sábado à noite.




(Olho comedor de vagalume)
- Viu?
- A mim, me interessa quem come pizza.

 



Antes o banal, fome mesmo, antes a fome real, fome de pizza, 
bem antes
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