segunda-feira, 20 de novembro de 2006

fragmentos tirados da gaveta.

O seu olho ficou mudo
Foi o tempo
Ele olha e não vê.

Esqueci de
Essa paz
Cadê você?

Eu tenho medo de segurar muito forte na tua mão.

você me fala mais alto que os meus escritos

quero canções pra terminar

Diz pra ele que eu ligo se precisar,
que o escuro é relativo,
que a dor é pra ser dividida.
Não, não diz isso.
Diz assim:
- Ela disse que liga se precisar.

Insensato é aquele que busca o amor na fúria dionisíaca.

Quando tudo são flores, ele me traz espinhos.

Quando digo sim, com a força brusca de cada letra, a vida me joga um balde de água fria, e segue seu caminho, como se surda fosse.

Às vezes sinto uma vontade louca de escrever.

“escrever é fugir da emoção” citação contida no filme Vinícius

Espero para ver o que não vêm.

“Que a noite traga alívio imediato” samia mounzer

“dê um trago na televisão, e veja seu vício”

“Eu também não sei, por isso estou perguntando” Sócrates

“Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juventude pensar”
Onde andará essa divina alma?

acho que eu não sei amar. preciso aprender antes que o amor desista de mim.

Simples e difícil - relativismo

acontece

Ela vestiu a melhor roupa na tentativa de ressuscitar a poesia.
Percebeu que a temática desse drama seria uma palavra simples, imponente e pouco soletrada: a inocência.
Gostava de ouvir palavras lânguidas da boca daquele que ofertava-as sem nem sonhar no paraíso que vinha como bônus.
Existem momentos que de tão sinceros, chegam a parecer um milagre, um rastro de luz, um abraço bem dado, como a música que ele canta e sem dizer uma palavra que sobre a faz sentir-se uma nuvem branca no céu azul: única, como quando ele ajeita delicadamente o cabelo que acaba de lhe cair sobre o rosto, como aqueles dedos que encontram levemente o seu queixo implorando por olhares mais precisos, menos curtos, mais presentes.
Eles marcaram um encontro num Orto qualquer, sem medo dos possíveis silêncios, nada poderia ser mais puro e legítimo, a natureza têm dessas coisas.
O caminho mudo marcava o encontro de duas almas divinas.
Quando uma alma encontra a outra de fato, se acende uma luz em qualquer lugar escuro, uma delicadeza que escorre pelos olhos.
Esse encontro foi como um sonho bom.
Um milagre real.

domingo, 29 de outubro de 2006

incrível

"a verdade, a mais pura das verdades, é que era a mim que eu buscava quando fui a ti"
samia mounzer

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

em chuva-noite-frio

A poesia me disse
com palavras ausentes
que a felicidade é dos cegos,
raros ouvintes

Me disse:

- Para que as palavras obedeçam
é preciso dor,
é preciso que a dor sangre.

Até que não haja força
Até que o ritmo perca o pulso
Até que não haja alma

Apenas pedaços

frustrados-pedaços-lírico-sentimentalistas
__________________________[lançados]
às almas desertas, às esquinas sem bar

aos bares sem álcool
aos álcools sem cigarro
aos cigarros sem fogo

De presente: a ausência
traduzida em poesia
em dor
em escritos usurpados do escuro.


________________________________________

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

assim

disse-me que queria saber de mim, quem sou.... não preferes saber quem fui? digo-te que sou aquela, somente. mas já fui coisas maiores que isso.
já fui equilibrista, dançarina, insana, alguns até dizem que fui o máximo. passado caríssimo.

tá tudo assim... tão cheio de lacuna.

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

grito

ainda falta a carta.
ela já chega.
atrasos são mais comuns do que eu gostaria.
só me responda uma coisa...
você ainda pode me ver?


(grito. grito. grito. grito. grito. grito. grito)

que o futuro seja claro.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

por inteiro

agora eu sei a dor de se dar por inteiro.
por enquanto só dói porque a delícia são frutos, e esses exigem tempo para se mostrar.

"Eu te amo
Na profunda imensidade do vazio
Em tudo que ainda estás ausente
Adalgisa Néri
é como se valesse a pena. como a saudade que sucede o abandono. como uma obra estendida na parede. como um lindo retrato seu ou dela. como uma brisa que passa sempre no mesmo horário. como a lua cheia num dia atípico. já nem sei mas o que digo, me perdi nas palavras.
  • sabe existe uma personagem chamada Griet, dês de que a vi quis se-la, e quando a li senti que faltava inocência. parecia que a borboleta já sabia que ia morrer. perdeu a graça.
"Infantil é o teu sorriso
A cabeça, essa é de vento:
Não sabe o que é pensamento
E jamais terá juízo"
Manuel Bandeira
"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra"
Caio Fernando
there is desert
é tudo tão escuro
cresci
já não tenho medo
me lanço
me atiro
me
até que a lua me diga pretenciosamente: "Foi um prazer"
Não, esse prazer não
esse, esse dolorido prazer é só meu

quinta-feira, 20 de julho de 2006

dar a luz

"a resposta de Capitu foi um riso doce de escárnio, um desses risos que não se descrevem, e apenas se pintarão; depois estirou os braços e atirou-mos sobre os ombros, tão cheios de graça que pareciam um colar de flores. eu fiz o mesmo aos meus, e senti não haver ali um escultor que nos transferisse a atitude a um pedaço de mármore. só brilharia o artista, é certo. quando uma pessoa ou um grupo saem bem, ninguém quer saber de modelo, mas da obra, e a obra é que fica. não importa; nós saberíamos que éramos nós"
machado de assis
dom casmurro


me falta cimento.

.saber que sou eu.

.obra de arte


já te imaginei um artista plástico, não grande, mas pequeno, daqueles que só se conhece quando as línguas são comuns
sem holofote, luz,

um brilho que somente eu via.
te direcionaria luzes quando julgasse nescessário
é branco, como a nuvem que brilha por culpa do fundo.

domingo, 16 de julho de 2006

"Desculpa se te fiz fogo e noite sem pedir autorização por escrito ao sindicato dos Deuses...
mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei como refúgio dos meus sentidos pedaço de silêncios perdidos que voltei a encontrar em ti..."

Toranja
Agradeço àquela que apresentou-me esse mundo fatástico português.

domingo, 2 de julho de 2006

resposta

para aquele anônimo que pergunta, digo que sim. agora, ele, apenas ele, não só basta como excede.

.essa mania de querer excessos ainda me faz sã

encontro delicado

Eles se conheceram em qualquer lugar, num momento nada fantástico. Ela vestia calça jeans velha e uma blusa de malha como a calça, ele mal vestia-se: uma bermuda cansada de tantos assentos desconfortáveis, uma blusa que parecia além dele, sua unha estava por cortar, seu cabelo faço questão de não descrever por aqui. Conheceram-se num dia translúcido, algo como 4 de janeiro, 20 de dezembro, dias que se ocupam com anteceder ou preceder, dias que não são, dias que poderiam deixar de existir sem ouvir nenhum apelo, dias que podem se dar ao luxo do anonimato. Ana e Pedro – assim se chamavam – olharam-se com descompromisso, e ouso dizer que naquele momento não se enxergaram de fato. Não existia conflito, não mesmo, ele chegou como quem pede fogo e ele se limitou a emprestar, nem uma cruzada de pernas, nem um ajeitar de madeixas, nada. Começaram a falar e ouvir com um desinteresse confortável. Discutiram política, teorias sociais, econômicas, citaram Marx, Weber, não mais que isso, seria profundo demais, um para cada visão cabia perfeitamente. Concordavam em muitas opiniões, assim o conflito passava cada vez mais longe. Suas grandes causas, fantásticos planos foram aos poucos se apresentando. Viram-se comuns. Existia uma inocência e um quê de banalidade nesse encontro, - não, um encontro não, nesse “acaso”, “encontro” parece tão sonhador. Após horas de conversa Pedro convidou Ana suntuosamente para conhecer seus aposentos. Ana sequer pensou e foi, é importante lembrar que Ana era dotada de uma graça e curiosidade própria de menina, para ela obstáculos eram escadas. Essa menina não conhecia os porquês, tudo era tão simples, fácil e vivo, que chego a acreditar que ela dividia casa com a solução. Lá se foram eles cultuando brisas de outono. Chegaram. Pedro educadamente abriu-lhe a porta, contou-lhe piadas graciosas ou não, deu-lhe uma toalha, mostrou-lhe os cômodos, fez um breve histórico sobre os outros residentes, colocou uma música agradável.
Ana resolvera tomar um banho, enquanto Pedro pôs-se a preparar alguma coisa mastigável. Este era um perfeito e genuíno cavalheiro, sabia como ninguém agradar à moça e rapazes, não distinguia sua atenção por sexo, era cortês por natureza.
Ana ao sair do banho pouco demorado, foi imediatamente ao encontro de Pedro que estava de costas lavando as mãos. Ela não pôde acreditar no que via, sentiu o tempo correr desesperado, só teve tempo de abrir um sorriso desconcertado, seus olhos brilhavam e suas pernas mal podiam embasar seu corpo. À mesa estavam: vinho, taças e um prato, apenas um prato de macarronada.
Se olharam de relance e naquele momento qualquer descrição pessoal ou conhecimento teórico falaria pouco.

sábado, 17 de junho de 2006

saudade

saudade do tempo em que não me bastavas

.

Sabe quando ela veste a melhor roupa e pensa nos olhos que surgirão pela rua. algo como tomar um sorvete e olhar em volta. como cruzar as pernas numa grande festa. afagar-se num lugar aconchegante. como durmir esperando pelo sonho. é assim

Par-aquele

Que seja por despeito, falso-amor ou qualquer coisa, digo-te que essa menina, que antes vibrava a cada novidade, lamenta o novo de agora. Dói lembrar o quanto me perdi. Lembro-me te vendo como um desconhecido, atentando para uma semelhança que sequer via. Lamento que tenha te estranhado tanto, e digo que não foi sempre assim. Eu fui, sempre. Não você sob meus olhos, entende? Agora já é tarde, cheguei atrasada, não sabe como isso me desconforta. Foi bom me sentir mulher por algum tempo, me sentir sua mesmo que parcial. Desculpe a oferta limitada, é que a vida me fez assim. Parece que a solidão não cansa de mim. As coisas mudaram, e não te quero disponível, te quero sabendo da minha disponibilidade. Não te quero traidor, nem apaixonado, te quero apenas, de qualquer jeito, do jeito que vieres ou que não vieres. Que venha o que restou de melhor, de pior, de você. Lamento não ser a mulher que sonha, ser mais real que isso. E é assim imperfeita, incompleta que te gostei. E te gosto, desculpe, agora mais. É uma pena que sua perda tenha me encontrado. Te quero falando das minhas raras chegadas, cantando Canto de Ossanha, fazendo planos como quem nunca caiu. Que seja assim ou de qualquer outro jeito, mas que seja, porque se o que faltava era eu, agora, só agora sou.

domingo, 4 de junho de 2006

Desilusão

As borboletas amarelas morrem

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Se ela falasse diria: "a maçã madura caiu"
Pérola Simões
"Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente"
Adalgisa Néri

sexta-feira, 12 de maio de 2006

"Que o desejo não me guarde na vontade de ser tua"

Cristina Branco

sábado, 6 de maio de 2006

Do me your litle

It's confortable for you my dull life.
I want to know abaut your world.
Put on wings and teach me to fly.
Turn off this dark person.
How many happy days are you to write far from me?
What are you going to do tonight?
I'm going to speak abaut more than you alone.
I'm going to listen our musics.
I'm going to do all for you.
And you?
Call me not.
I don´t want to know.
I'm going to close my eyes.

terça-feira, 2 de maio de 2006

Solidão com vista pro mar

"Eu não sei dançar tão devagar pra te acompanhar"
Marina Lima

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Ilusão de um leviano

O olhar disperso da criança que acostuma-se com o fechar de vidros cegos
O circo dos artistas que fazem do sinal seu horário mais fiel
O andar apressado do empresário que planeja o sucesso
O sorriso delineado da mulher que é sócia da esquina
Os braços fartos do escultor de grandes paisagens
O cheiro suave do perfume da mulher
O badalar do sino que simula alguns segundos de ordem
O incansável cantar dissimulado dos monumentos históricos
O eterno peso leve do barroco
A mulher que mantém os braços erguidos à porta da igreja
Difícil dizer se é louvor ou prece
O abrigar insatisfeito daquele que não sonha
A luz do dia que movimenta
A luz da noite que machuca
A solidão clama por um pouso não forçado
O sereno pede que as esquinas sejam acalento
A lua sabe que o abrigar de muitos é o desabrigo
O dia esconde a solidão nos becos
A noite acama a euforia
Empresta lentes para que ele veja o quanto é caudaloso
Enxergar seria bom se não fosse tão doloroso
Antes ser esporádico a não ser
E amanhã assim como ontem os olhos adoram o que não vêem
O que não se pode tocar de tão escorregadio
Ele gosta do inalcançável
Se sente um eterno aniversariante
Esqueceu de abrir os olhos

sábado, 22 de abril de 2006

Eles

Como ele poderia dizer pra ela que ela não era bem assim como ele sonhava?
Como ela poderia dizer que essa coisa de corpo ainda a assusta um pouco?
Como ele diria que a vida passa rápido e que ela tem medo de viver?
Como ela diria que o medo do desconhecido só precisa de um lirismo maior pra ser quebrado?
Como ele poderia dizer que seu balançar de perna e seu olhar perdido o faz seguro?
Como ela poderia dizer que sua vida é tão aflita quanto seus sentidos?
Como ele diria que ainda é novo para entender a sua profundidade?
Como ela diria que o sente tão passageiro quanto uma viagem?
Como ele gostaria que ela não se fizesse tão culta aos seus olhos
Como ela gostaria que suas prioridades fossem diferentes das de um menino
Ela só queria que essa euforia viesse acompanhada de um abraço
Ele só queria desrrespeitar o tempo
Ela só queria se filiar ao tempo para que um dia ele atenda seus pedidos
Ele só queria saber quem é o autor de determinada frase
Ela só queria lhe mostrar o quanto é sábia
Ele a faz perguntas frágeis
Ela responde com a humildade de quem muito sabe
Ele é tão obscuro quanto um dia de chuva
Ela irradia como um dia de sol
Ele é uma pena
Ela é a pena.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Magia

Hoje ouso escrever algumas linhas, pois acho que basta de jejum, basta de esconderijos, basta de me esconder de mim. Tenho andado numa espécie de transe paradoxal, que me faz encontrar o lírico que fica no inconsciente, o paradoxo é que eu sei da sua existência. Descobri a pouco o quanto a flauta é um instrumento fantástico. Sendo mais específica achei assim por acaso numa viagem que fiz a pouco o instrumento que me faz levitar. Mesmo sendo um estranho, já sei o quanto sua companhia me fará bem, digo me fará porque sei que temos muito a viver pela frente. Acredito em poucas coisas, uma delas é o poder da música. Ela cura, encanta, e purifica, nos faz entrar num mundo inquestionavelmente mágico. Ah, como amo a magia!
Por hoje chega.
"Madalena tem um riso que significa uma possibilidade de gandaia-esperançosa"

Oswaldo Montenegro

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Desabafo

Arre, estou farto de semideuses!
Fernando Pessoa

O nascer

"Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso."
Fernando Pessoa

Ando tão dependente que sequer consigo juntar algumas palavras, sílabas ou letras.

quinta-feira, 30 de março de 2006

Homenagem à Cigana


"Eu me vesti de cigana
Pra cantar o sol
Fiz comício e deu cana
Pra cantar o sol
Ah, que riso bacana
Pra cantar o sol
Virtuosa e profana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Fui quem se dava e se dana
Pra cantar o sol
Quem se empolga e cigana
Pra cantar o sol
Quem teu hálito abana
Pra cantar o sol
Quem não mente, te engana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Fiz do meu corpo cabana
Pra cantar o sol
Fiz de um ano semana
Pra cantar o sol
Fiz do amor porcelana
Pra cantar o sol
Fui cigarra e cigana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Fui tua mão que me esgana
Pra cantar o sol
O que o brilho não empana
Pra cantar o sol
Meu amor tinha gana
De cantar o sol
Virgem santa e sacana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol"

Cigana_Oswaldo Montenegro

terça-feira, 21 de março de 2006

"E sem muita demora ou explicação soltaram-se asas enormes de suas costas, arrancando a capa envelhecida em que a vida se tornara. Libertou-se e como uma estranha fênix renascida das cinzas subiu ao céu, num vôo que mais parecia um mergulho na tarde dourada. E quando a noite chegou, trouxe consigo uma saborosa felicidade e cheiro de amoras"
Renata Soares
"Parece que quando se vive nada sucede. As pessoas entram e saem de um momento vivido como se de um autocarro se tratasse — depressa, sisudas e aos solavancos.
Como se fossem eternas."

Sónia Bettencourt

domingo, 5 de março de 2006

O reacender do vazio

É tempo de rever o que foi escrito e inscrito, de recusar as linhas frágeis, de sublinhar os grandes versos, de carregar o peso leve e de crescer o que decresce. Nesse espaço que de tão vazio se tornou escuro deixo esse leve parecer que não se faz sublime, nem digno, apenas parece, se parece, aparece.

"A esperança é a coisa com plumas..."

Emily Dickinson

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

De sua autoria descorada

Chove lá fora
Aqui dentro nem a natureza encontra espaço
Nada mais
Não procure a audácia do sol
Nem o desbravar da chuva
Querendo uma folha em branco, entre
Sinta-se à vontade
Até sente-se caso deseje
Há, não quer sentar?
Pois então... Vejamos
Assim como quem não quer nada escreva a primeira linha
Quem sabe não sai um poema?
Desenhe também se preferir
Quer pincel?
Não tenho muitos
Mas te ofereço esses dois
As cores, bem
Tenho azul e vermelho
Gosta?
Não?
Pois então rabisque
Aja como criança
Não me importo
Quer ajuda?
Bem,
pegue o lápis,
segure na minha mão...

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Angústia

"Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar quando eu me encontar

Quero assistir o sol nascer
ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver"

Momento ausente
Canções contorcidas
Sensações turbulentas
Vontades ocultas
Desejos avassaladores
Saltos que viram
Solidão que acumula

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Vou na valsa

Como poderia te dizer agora que te pensar me faz bem?
O tempo anda fechado, acredito que abrirá em breve. É uma pena que tantos tempos precisem ser fechados para que um apenas se abra.

Palavras soltas, idéias confusas, as palavras não me servem agora.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

"So much to tell with you"

domingo, 1 de janeiro de 2006

Simplismente uma carta

De repente me peguei pensando em como você estaria agora, fazendo o quê e com quem. Senti vontade de te falar coisas que sempre pensei em dizer. Mais do que nunca aguardei por um telefonema seu, mesmo sabendo que no caso dele acontecer seria secundário, sei que não teria eu te levado até o telefone. Mas não me importei. Só queria ouvir sua voz e até agora quero entender por que. Cheguei a conclusão minutos depois que existem coisas que fogem do meu crítico intelecto. Me senti normal, comum. Senti que caso te encontrasse agora não estaria altiva, te olharia "por baixo", como nunca tinha olhado antes. Gostei de me sentir assim e lamento que não esteja por perto. Espero que esteja bem e que um dia eu possa te fazer entender tudo e qualquer comportamento que ainda não entendo em mim. Gostaria de entender o seu também, mas esse se faz um pouco claro. Não todos. O fato de você não ter me ligado antes de viajar por exemplo, me fez sentir desimportante, diante disso parei de me sentir tão especial aos seus olhos. O que é bom, porque na verdade nunca fui, te induzo sem perceber a dizer as coisas que quero ouvir por pura vaidade, e o mais incrível é que quando você fala me sôa tão natural que eu acredito no que ouço. Pura dissimulação. Não creio que minta, apenas acho que te inventei na minha mente infantil. Você também me enxerga da sua maneira. As vezes olho em volta e tenho a sensação de te conhecer melhor que todos, mas logo vejo que te conheço da minha forma, só. Sei que deve estar achando tudo muito complexo, e como não tem saco pra meias palavras prefere que eu seja mais direta, mas não sei ser assim. Prefiro que entenda tudo da sua forma.
Sinto vontade de te contar coisas que de tão íntimas me parecem insignificantes perto dessa distância que existe entre nós dois. Existe um vácuo, um vazio, que ao passo que trasparece verdade nos distancia. Me sinto meio infantil te escrevendo agora, me sinto menos racional, menos pragmática.
Gostaria te ter coragem de te entregar essa carta. Caso não tenha ela será mais um momento guardado, um momento antes meu e agora seu. Dois momentos guardados numa gaveta.
Desculpa se sempre me fiz parecer inatingível, é que sou mesmo assim. Pode ser que eu tenha medo de te aceitar e você relaxar, existem mil possibilidades, mas prefiro me declarar dessa forma. Confesso também que essa relação não é no todo ruim. É bom te ter pela metade, e acredito que você também prefira assim. Acho que não sabemos ter mais. É bom sentir que sei mais sobre você só pelo fato de você me ligar sempre que precisa de alguém pra te ouvir, mesmo que você não diga exatamente o que gostaria, fala coisas assim perdidas pra não dizer o que na verdade te fez me ligar, me deixa durmir, mesmo que eu não precise ser deixada, me diz que tem fome e normalmente eu tenho também, falamos tudo menos o que pensamos. Eu sei, e não me importo por achar que sei o que você pensa, e você não fala por pensar já saber o que eu penso. Ninguém sabe nada.
No primeiro dia do ano estou aqui no meu quarto lembrando do seu sorriso que a essa hora deve estar servindo de oferta pra muitas outras pessoas, algumas até me incomoda pensar que podem também desfrutá-lo, mas estou aqui chorando. Não sei o que isso quer dizer, queria que dissesse algo de sólido, já que te sinto sempre tão líquido, você escorre entre meus dedos e eu finjo que te deixei cair.
Quero te dizer por fim que o que sinto por você é inexplicável. Me sinto sua, e ajo tal como, sem nunca ter sido. Nem sei se devia dizer isso, mas as vezes me vejo em situações em que seria bom te ter comigo. E o que é confuso é não saber porque não dá certo, nem errado.
Sei que não te esclareci nada, mas enfim quem sou eu pra entender. Não entendo como teus olhos conseguem me falar tantas palavras sem auxílio de outro sentido. Não entendo nada, só entendo que te queria aqui e gostaria muito que esses mesmos olhos não estivessem sempre tão distantes quanto estão agora.
"Nunca disse, te estranho"