sábado, 5 de novembro de 2005

Desencontro

Ela ocupa toda a cama. Ele ocupa o que lhe sobra.
Ela acorda. Ele se espalha pela cama.
Ela se arruma. Ele acorda.
Ela reclama da toalha molhada sobre a cama. Ele faz que não ouve.
Ela pede mais espaço no espelho do banheiro. Ele se retira.
Ela diz que diz que deveria ter se levantado cedo já que resolvera se arrumar tão lentamente. Ele se apressa.
Ela o espera inquieta. Ele a canta.
Ela pede que diminua o tom de voz. Ele continua a cantar baixo.
Ela o olha com impaciência. Ele a olha como quem pede.
Ela o cede um beijo indireto. Ele se aproxima procurando verdade.
Ela desvia o olhar. Ele inflama um suspiro, ajeita a gravata, pega a pasta e sai.
Ela se vê parada diante da porta. Ele chega no trabalho.
Ela sai. Ele liga.
Ela não ouve. Ele desvia sua atenção.
Ela chega. Ele liga novamente.
Ela atende como quem já se acostumou a ser lembrada. Ele pergunta.
Ela responde. Ele desliga.
Ela chega. Ele colhe uma flor.
Ela toma banho. Ele chega como quem nunca se desiludiu.
Ela observa com a maturidade de um pagão. Ele toma banho.
Ela deixa a toalha sobre a cama. Ele a coloca no lugar.
Ela ocupa todo espelho do banheiro. Ele não quer se olhar.
Ela se veste lentamente. Ele põe o travesseiro sobre o rosto.
Ela o canta. Ele faz que dorme.
Ela o beija. Ele se mantém estático.
Ela vira de costas. Ele a olha e lembra do tempo em que os encontros eram comuns.
Ela dorme. Ele vira de costas.
Ela ocupa toda a cama. Ele ocupa o que lhe sobra.

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