segunda-feira, 31 de outubro de 2011

a carta real

eu só queria que você soubesse, eu queria te dizer que não é fácil sair de um lugar tão quente e se jogar assim de volta no vazio, de cabelo solto, ombros largos, a minha cabeça é um lugar de difícil acesso, de modo que eu acabo sempre duvidando das coisas que ela decide, mas sabe que dessa vez eu sinto mesmo que não teria saída, não teria fundo, a gente ia cair lá em baixo e daí levantar seria complicado, você ou eu, estamos fracos, a gente planejou coisas, eu sei , e ás vezes me sinto traindo tudo isso que tem ao meu redor, que embora você pense o contrário eu enxergo sim, enxergo inclusive sua paciência desesperada, eu não preciso dela, e quando li sobre ela mais um castelo caiu, porque tinha esforço da sua parte e isso pra mim foi novidade, e aí tem o cinto aqui que eu não sei pra onde vai, se jogo pelo ralo, se troco por uma coleira pra você, por mim, por em mim, eu não pensei que fosse terminar triste assim, eu não esperava te ver disponível naquela merda de facebook tão cedo, mas ok, boa viagem pra você, só não pense que não ta doendo aqui, e quando eu ouço – cart from italy – lembro daquele início, daquela carta toda inocente que mandei pra sua casa, eu queria ter tido uma sua pra guardar, pra ler o que foi vivido assim na mão no bruto, eu evito ficar sozinha pra não correr o risco de, eu evito muita coisa porque sei que é melhor, você me fez sofrer muito, mas me fez tão mais feliz, tão mais mulher, tão mais bonita, segura, você é alguém que foi parte de mim, e não sei, existe essa variável do tempo, ela pode jogar á favor, contra, mas ele muda tudo, mexe em tudo, eu sei que eu sinto muito aqui dentro que agora não dava mesmo, e não é porque quero qualquer outra pessoa, a gente sabe que isso pra mim nunca foi tão fácil e por isso que me dói ainda mais soltar da sua mão, mas acontece que eu preciso ter forças antes que algo aconteça, antes que chegue o natal, antes que eu me sinta presa por algo menos nobre do que o amor, antes que vire doença, eu não tava feliz, tava doendo sempre, e quando eu lembro do início eu queria congelar naquela coisa meio infantil, eu queria aquela cena da barata no skype gravada, eu queria me mandar uma gérbera por dia pra fingir que foi você que veio, eu queria muito ter te dado um abraço de verdade por mais que fosse difícil de largar e arriscado, trocar seu nome no celular me arrancou um pedaço, eu nunca mais vou ouvir -dois- sem chorar, eu tiro forças não sei de onde, eu acredito muito em você, quero que vá muito longe, que vire produtor se achar que faz sentido pra você, eu tenho certeza que te dei muita coisa boa, assim como você me deu um mundo mais confortável e engraçado, lembra da cena do metrô? como a gente se diverte com quase nada, olha, desculpa se eu to sendo fraca, eu to desistindo, isso me dói muito, mas eu não podia mais com a sua ausência, eu não podia mais viver sem você aqui todo dia, a qualquer hora, eu não podia mais com você em doses tão reduzidas.