terça-feira, 15 de novembro de 2005

A verdade é feia

Ando... Na verdade não ando, estou. Estou tão inquieta que não me acho nos meus pensamentos. Parece que aguardo por um ilustre e surpreendente acontecimento. Como se estivesse faltando os longos 5 minutos para que eu finalmente me desencontre. Para que eu me encontre, no palco, com a realidade de um outro que não me é tão desconhecido. É isso. Sinto falta dessa contagem regressiva. Sinto falta do barulho de pés inquietos sob a tábua já exausta de tantos acontecimentos temporários. Uns até duram alguns meses, mas nada faz com que se sinta menos usada. Sinto falta do cochichar por detrás das longas cortinas. Parece que o mundo ali atrás é outro. Parece que de fato o mundo parou pra que eu descesse. È um lugar mágico, encantado, e por mais que não seja alegre no todo, é bonito. Uma beleza que me esforço para descrever. O belo não é facilmente retratado, ele é.
Eu precisava falar pra mim o quanto essa saudade me incomoda, ela me serve de justificativa para uma infelicidade que eu busco dia pós dia. Antes de dar continuidade a esses lamentos covardes, vou tentar descrever essa beleza que poucos conhecem.
Era bom observar a ansiedade de todos ali, enquanto ninguém podia ver. Interessante observar a forma com que cada um exteriorizava essa inquietação. Essa vontade de se mostrar nos próximos segundos no mínimo belo. Uma beleza que transcende o físico. Uma beleza que a mentira encobre sempre que tem tempo. Ou que o tempo encobre com a mentira. Depende dos olhos de quem não vê. Falo da verdade. Falo da nudez, da transparência que não enxergo mais. Quando estamos lá atrás somos alguém de verdade. É pedir demais que sejamos nós mesmos. Somos apenas alguém. Sentimos por alguém. Gostamos de um alguém que este alguém gosta. Nos frustramos com as desilusões desse mesmo. Caímos da altura que for, nos arriscamos, sem medo dentro deste alguém. Amamos sem artimanhas e maquiagens. Simplesmente amamos. Simplesmente também, odiamos. E ponto. É até engraçado observar no outro a simplicidade que a "verdade" esconde. O mundo seria mais puro se cada momento fosse preenchido com a beleza sem desculpas. Ela que hoje nos é obscura. O que era verdade, mente. O que era belo, enfeia. Admito que faço parte dos que só sentem quando ninguém está por perto, dos que se mostram supostamente melhores do que são, dos que se distraem com canções que propagam a mentira que idealizamos. Essas nos mostram uma realidade distante e utópica, abrigam verbos que jamais poderemos conjugar. Gostamos disso. Gostamos de parecer belos, quando na verdade estamos ridículos, pois o outro também quer parecer, e ambos sabem que não são.
Essa verdade que buscamos só se faz presente quando todos pensam ser mentira. Quando alguém diz que mente, acaba de se tornar um ator. O ator faz que mente. Nós fingimos acreditar que tais coisas são possíveis. Na ausência de amor próprio, e na necessária elevação do ego, busca-se amar um outro dentro de si mesmo. Unindo a verdade e a mentira, o belo e o feio.
(13.9.05)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fala que eu quero ler.