segunda-feira, 27 de outubro de 2014

coisas casuais?


Agora, hoje, eu venho aqui escrever alguma coisa, qualquer coisa em primeira pessoa mesmo, assim, o mais inteira possível pra tentar codificar essa coisa toda desconhecida que ta nascendo dentro. Há algum tempo eu não leio nada que me comova, não consigo ficar mais que 5 minutos numa página de livro, tem os contos, e mesmo eles, aqueles que eram muito meus não me representam mais. E agora pra escrever eu decidi ouvir Los Hermanos: Assim Será, coloquei no aleatório, essa veio, e logo em seguida: Adeus você. Sendo assim, isso aqui, esse bando de palavras pode ser lido, e em seguida, ou no meio (mais tarde eu resolvo sobre isso), a música pode ou deve ser ouvida, porque cada vez mais eu sinto que nada dá conta. É tudo invenção. Tudo. Tudinho. Quando não é, é chato, daí a gente nem considera. A gente seleciona os pontos altos, e o que há de mais poderoso é o que a gente cria. A gente cria gente, cria amor, cria situações mais bizarras, a gente transforma essa coisa de realidade (que aos poucos e pelas beiradas vai comendo tudo). E o que acontece quando a gente percebe que mentiu pra gente mesmo? Não sei. Por isso esse bando de palavra. De maneira geral, bem geral mesmo, eu to enjoada de palavra, só de escrever aqui meu estomago já começa a doer, só de ver aquela menina toda frágil querendo me dizer uma série de coisas, querendo me ouvir, querendo tudo verbal, me deu preguiça, mas assim, uma preguiça que interrompe qualquer tentativa de ouvir/dizer, não tem espaço pra esquizofrenia, alguém sentou no lugar da fantasia. O mundo de Sophia. Cansei de inventar, eu sei, eu vejo, agora eu vejo tudo tão real, tão sem cor, mas não é exatamente feio, eu só não to sabendo muito como andar, não to sabendo muito como e o que ser depois dessa descoberta. Eu não to falando só de amor, eu to falando de tudo, tudo mesmo, to falando de todos esses sentidos que aos poucos vão caindo por terra, to falando de todos esses amigos que vão desaparecendo um a um a cada ano, eu to falando desse quarto com esse papel de parede cheio de flor, eu to falando dessa purpurina que a gente coloca em volta, eu to falando do quanto a gente é estranho/potente pra criar tudo isso. A vida é urgente. Ela é real. Ela não tem cor. As coisas terminam como começam, mas logo que a gente escreve o começo já começa a rasurar, a gente começa a escrever por cima, a gente ultrapassa o que é legítimo, isso é o meio. Teve uma época que eu pensava muito sobre o meio, essa coisa de meio, alguém me disse que ele não existe, eu concordei, mais por não ter nada a dizer, mas agora eu acho que entendi, o meio é tudo que ta escrito por baixo, o meio é a tentativa constante de reescrever por cima até que o papel rasgue, o meio é a sustentação dessa mentira criada. É justamente por isso que depois do meio vem o fim, o meio cansa, o meio é esse desmascarar do que fica por cima, o meio não deve ser ultrapassado, deve-se aprender a viver nesse limbo, nesse equilibrar de tintas postas, na verdade não se deve nada, se você consegue ver por baixo da tinta forte, se você enxerga ali embaixo, se você tem o privilégio de ver algo que ninguém mais vê e esse algo não te agrada, use a ponte de acesso ao fim, não adianta insistir e riscar em cima, não adianta, nesse caso, é a primeira impressão mesmo. Por isso eu acredito que quanto mais bonito for o início, maior a chance do final ser o fim mesmo, deve ter alguma coisa haver com não entregar o jogo no primeiro minuto, deve ter haver com xadrez. Outra música, a de agora:

 

 

Senta aqui/ Que hoje eu quero te falar/ Não tem mistério não/ É só teu coração que não te deixa amar/ Você precisa reagir/ Não se entregar assim/ Como quem nada quer/ Me diz cadê você aí?

- ?.

Me diz o que te sobra além das coisas casuais?

- Joga tudo isso fora. O fato é que alguma coisa morreu, alguma coisa muito grande, alguma coisa que dava conta de me levantar de manhã, alguma coisa que me segurava nesse meio de ser eu.

 

RECEITA DO ANO:

Então, se você se perceber vivendo algo extraordinário, cuidado, tenta perceber se é do tamanho que te parece, olha bem, não dispersa, procura reescrever só algumas coisas, pouca coisa, não inventa muito não, mas se por acaso você se sentir impulsionada a escrever demais, talvez não tenha nada escrito por si só, talvez você esteja amando somente a sua competência imaginativa.


ATENÇÃO:


O grande risco é você sair reescrevendo tudo a todo tempo, a ponto da coisa se transformar em tudo que você sempre quis, esse erro é ainda pior, é com ele que você praticamente apaga a existência de um outro, você aborta o você, o outro e o que sempre quis. E quando você quer ver por debaixo, não tem mais nada.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sutileza(s) cotidiana(s)

E eu penso que tem tanta gente na rua, tanta gente que passa, que te olha com raiva, gente que te olha querendo entender, gente que não olha também, gente é uma esquizofrenia de Deus. Sendo assim, se você por acaso encontrar alguém, se por algum motivo precisar falar com essa pessoa, se você ouvir qualquer coisa que te pareça muito comum, se você percebe que gosta das coisas que ele diz, ou que não diz, pode ser da respiração, se você percebe que gosta da respiração dele, nada demais, aí você conseguiu, você descobriu uma espécie de amor, amor pelo jeito de respirar, se você encontra 3 formas de amor nessa pessoa, se você tiver vontade de ficar olhando pra ela enquanto ela dorme, aí a coisa já está mais avançada, mas eu digo, com esses três amores, eu, se fosse você, não soltava mais a mão dele, ou dela, não soltava até suar, até esse suor virar semente, até que ele se reproduza por aí, até que essa coisa saia de vocês, porque já não precisa, até que essa coisa precise gerar uma nova coisa.