terça-feira, 20 de outubro de 2009

um casamento


quando eu crescer, quero me casar.
(foto de uma amiga que acaba de. uma irmã que de tão especial se casou)

tempo tempo tempo

- "Eu acabou sempre fazendo coisas para não gritar"

- o que é isso?

- trecho, frase do caio. acho que todo mundo na verdade faz tudo que faz pra não gritar, a gente trabalha, bebe, namora, tudo isso.

- não sei se concordo. a bebida por exemplo, a gente bebe justamente pra gritar, pra fazer o que quer, quando e com quem.

- não, a gente bebe pra não gritar e depois acaba gritando.

- não, a gente bebe pra gritar. se a gente grita quando bebe, a gente bebe pra gritar.

- acho que o grito, nesse caso é conseqüência, não causa. essa coisa de bebida... acho decadente as culpas que o álcool carrega. quando a gente bebe pode viver num filme. o beijo pode ser o beijo, e muitas vezes é, porque a bebida tem disso, ela coloca a gente no presente e a gente ao invés de agradecer sofre no dia seguinte. a gente sofre por agir, por sair do lugar, por dar um passo que não se sabia capaz.

- é porque muita coisa começa no álcool e se afoga nele mesmo.

- pois é, mas ás vezes é só isso mesmo que precisava. uma porta que abre e fecha no mesmo dia, e é esse dia que pode compensar todos os outros, esse dia pode ser o grito.

- um dia não deve compensar outro, ele deve ser um dia, e isso deveria ser muito. mas aí tem o futuro. ele é o mais possessivo dos tempos, o passado pode parar a gente, mas em geral é o futuro que é o guia maior.

- não é a gente que tem que pensar nele. pretensão nossa e perca de tempo.

- é, a gente passa a vida querendo ganhar e no final perde a única coisa que depende só da gente ganhar ou não.

- e ganhar é viver só. ganhar tempo e do tempo. pode ser bonito, e deve porque é a arte que imita a vida e não o contrário. o tempo existe e devora (mais uma do caio), não admito ser devorada. a gente precisa curtir com ele, dele e tudo mais. too pensando em organizar um movimento, seria algo como: viva no tempo certo. é algo como se ocupar com o que lhe cabe, a gente precisa pensar em abrir portas, o resto não é com a gente – quando que ela fecha ou quem vai entrar.

- tempo certo? a hora certa é com ou sem horário de verão?

- sem.

- com me parece bem mais orgânico. nada é exato, e falando de tempo. ele por si só já muda de uma pessoa pra outra. 1 minuto de vento no rosto é bem diferente de um minuto com calo no pé.

- tem alguém batendo!

- ta esperando alguém?

- não. atende pra mim!

- ah não! você nunca atende nada, porta, telefone. Hoje eu não vou.

- tudo bem. deixa tocar.

- mas eu não suporto.

- então abra.

- como você agüenta?

- o quê?

- saco! você devia deixar essa porta aberta. já vai!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

mal de cabeça

- doutor, eu não to bem.

- onde dói?    

- a cabeça.

- deixa eu examinar... aparentemente não tem nada. sofreu algo que possa ter levado a...

- ai doutor, tanta coisa né...

- ah, espera, tem uma marca aqui. marca grande! o que é isso? É de nascença?

- não, é que eu tomei um tiro já faz um tempo.

- um tiro? na cabeça? pode explicar melhor?

- eu era criança, não me lembro bem, mas minha mãe diz que eu estava na sala quando uma professora resolveu tirar sarro comigo, eu respondi imediatamente como sempre fiz, e ela revoltada me deu um tiro.

- como assim? uma professora? um tiro? e o que a sua mãe fez?

- me tirou da escola.

- só? e a professora? porque ela fez isso?

- minha mãe diz que é porque eu respondi, que não deveria, que é errado né. hoje eu não teria... mas sabe como é... naquela época, não sei, quando criança a gente acha que pode tudo, hoje eu jamais teria... uma criança sabe... a gente tem de saber nosso lugar.

- sei... mas e aí? depois? foi internado? sorte, eu acho...

- depois? ah, depois eu não sei, nunca soube, nem quis, sabe, porque isso tudo me envergonha um pouco, não gosto de falar, só falei porque vai que isso tem haver, que resolve não sei, não sei doutor, eu tenho andado meio confuso sabe, aí a cabeça dói...

- você trabalha com que?

- trabalho numa biblioteca.

- nossa que bom. e gosta?

- ah, adoro. leio um bocado sabe, gosto de ler, mas quase nunca leio inteiro, já que tem vários eu posso, sei lá, me dar ao luxo, sem parecer esnobe, de ler tanta coisa, tanta coisa olhando pra mim, ás vezes eu termino, mas só quando consigo no dia, cada dia pego um ou dois, algum que alguém indica, não sei, acredito em sinais, sinais não, em mensagens que precisam ser passadas no dia e na hora, por isso não continuo no outro dia, porque se ele, o livro, se ele não acabou é porque já deu o que tinha que dar.

- você usa óculos?

- não preciso. o que tem de mais pra se ver? a gente vê o que agüenta, nem mais nem menos. acredito que tudo tem o tamanho que pode ter.

- olha, pode ser algo dessa natureza... porque, veja bem, uma pessoa que tem alguma deficiência nos olhos, pode até não ser nada, pode ser cansaço, deve procurar um médico da área porque só ele pode te orientar.

- sei... é que eu tenho andado meio confuso... pode ser isso.

- confuso?

- é tanta coisa né... eu ando meio sozinho demais sabe doutor, daí ás vezes eu penso, eu sei lá, sabe, em procurar alguém, pra ficar junto, sabe, passar a vida porque sei lá, é normal, todo mundo busca, encontra, só que tem um problema, olha, eu não sei porque, acho que é por isso que a cabeça dói, acho, eu não, como vou dizer, eu nunca, não, eu não sinto a menor vontade, gosto tanto de ficar sozinho, dessa vida pouca sei lá, uma pessoa uma vez me disse: você é pouco pra mim, e sou sabe doutor, sou mesmo, não sei, não gosto, não, eu gosto, mas gosto muito mais de muitas outras coisas pra pensar nisso.

- mas não tem problema nisso!

- não tem problema? não percebe? doutor as coisas não estão cabendo mais na minha cabeça, acho que pode ser por isso que dói, eu preciso, preciso dividir, me dividir, essas coisas todas, não sei, elas precisam sair sabe, ás vezes parece que minha boca fala sem eu mandar, aí falo sozinho, não posso, sabe doutor, não posso guardar tanta coisa, preciso de outra cabeça pra depositar e depois armazenar coisas novas, se eu não retirar o velho, o novo não entra.

- mas você não tem amigos?

- não amigos que ouvem.

- como assim? seus amigos são surdos?

- tão surdos quanto eu cego. ah, doutor, desde quando os amigos ouvem alguma coisa? faça-me o favor, ainda mais esse tipo de coisa, eles só falam, falam, e eu como educado e respeitoso que sou procuro não repetir a falta daquele dia, eu ouço, muito, gosto, mas aí é mais coisa que entra, daí por isso também parei de encontrar as pessoas um pouco, pra ouvir menos e ter menos coisa pra guardar, porque sei lá, eu guardo mesmo quando não quero, aí fica difícil pra mim depois, fico falando sozinho.

- não sei, eu..

- a cabeça! a cabeça doutor, parou de doer! o que o senhor fez? nossa faz tanto tempo... meu deus, doutor eu vou embora, antes que volte, não sei, tanta coisa pra fazer bem de cabeça, eu quero sei lá, to me sentindo de cabeça vazia, como se diz, com a cabeça na lua, nossa, não sei, preciso fazer, ah doutor, preciso ir, muito obrigado, mesmo, o senhor, eu nem sei viu... cadê? não tem uma receita?

- por hora, eu aconselho ao senhor que leia um livro inteiro e volte só quando terminar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre as pessoas que se precisam

Olha, eu não entendo muito sobre essa coisa de sentir, de perceber sinais, não quando sou eu a protagonista, mas eu fiquei engasgada, engasgada com essa coisa toda, porque não sei, eu sinto que quando a gente não fala sobre alguma coisa é como se ela não tivesse acontecido, e eu parei nessa sensação, e to incomodada nem sei bem com que, acho que com a ausência de palavras mesmo, não falo muito nesses casos, mas ouço bastante, não tem jeito, o mundo é oral, e eu sempre me sentindo tão outra coisa, é tudo a mesma, a mesmíssima coisa. Então, eu quero te falar alguma coisa que não sei o que é, mas a vontade não passa e tenho pensado com certa freqüência, considerando claro, o tempo pouco que tive pra isso, mas eu, não sei bem, eu me senti bem sabe, embora tenha me sentido mal também, e to começando ou tentando aceitar que as coisas são assim, acontecem e assumem um caminho que independe de quereres diversos. É simples por enquanto: sinto vontade, acredito, e vou, mas é difícil sabe, porque sempre fiz o contrário, sempre fiz o que é melhor, me envolvi com quem deveria, pelo tempo que achei que bastava, e mudei, mudei a partir principalmente desse filme aí que você levou emprestado: separações, é incrível, porque me senti perdendo tempo diante desse filme, a ficção me pareceu mais viva, bem mais viva que eu, e eu mudei assim do dia pra noite, justamente numa fase em que o controle quase que tem montado em mim, e eu me senti bem sem controlar, sabe, porque apesar de toda essa coisa que envolve um acontecimento como esse, eu senti que deveria, e isso pra mim tem bastado mais que qualquer coisa, pelo menos por enquanto, essa foi minha primeira experiência, mas acho que é meio isso, a vida, a vida bem vivida ao menos. Vivida, ao menos. E fiquei agora pensando nessa coisa de separações, existe uma força maior que junta as pessoas que precisam ser juntadas, então, ela que me desculpe, mas eu não vou perder meu tempo com preocupações irrelevantes, deixa que ela cuida do que cabe a ela cuidar, e eu preciso tão somente dar um passo depois outro, preciso aceitar essa condição pacífica, que é tão mais leve e que resulta nisso que a gente chama de viver. Se a gente falasse:

- Eu to fazendo mais do que posso pra continuar aqui.

- Então faça menos.

domingo, 27 de setembro de 2009

Para George corrigido

é que quase sempre quando a gente prefere uma coisa
é porque não conhece outras
a escolha é uma falta de opção
quando a oferta é muita a gente têm é dúvida
é só porque ás vezes é bom falar dessas coisas pra parecer
bacana, bem resolvido ou essas coisas
o fato é que eu não sei sobre coisa alguma
sobre precisar
sobre saber o que é bom mesmo
só sei quando duvido

terça-feira, 22 de setembro de 2009

para george

é que quase sempre quando a gente prefere uma coisa é porque não conhece outras: a escolha é uma falta de opção, quando a oferta é muita a gente têm é dúvida.
é só porque ás vezes é bom falar dessas coisas pra parecer bacana, bem resolvido ou essas coisas, o fato é que eu não sei sobre coisa alguma, sobre precisar, sobre saber o que é bom mesmo, porque quando sei, duvido.
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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

No caminho tem uma pedra?

Eu preciso falar sobre uma coisa que me aconteceu hoje. Eu estava andando, indo em direção a Moreira Cezar. Eu estava indo pra terapia. Quando entrei na Mariz e Barros me aconteceu algo inesperado, muito inesperado mesmo. Eu estava indo pra terapia, como já disse, eu dobrei a rua, entrei na Mariz e Barros quando a orelha da minha sandália começou a pender pra um lado, foi no começo da rua que de repente a sandália que mais me cai bem aparece com um defeito. Eu continuei andando indiferente ao caso, mas eu não podia deixar de olhar, eu no fundo acreditava que tudo ia voltar a ser como antes sem que eu precisasse me esforçar. Era assim que deveria ser. Isso não estava acontecendo! Não comigo, não hoje. E eu continuava andando frenética olhando meu pé direito passo sim, passo não. Até que resolvi ceder, ajeitar, porque aquilo estava me incomodando, me distraindo, me irritando. Eu ajeitava sem nenhum critério e com uma vontade de arrancar aquela coisa errada e ir a pé, mas eu ainda me preocupo com o social, felizmente, ou não. Eu dava cerca de 10 passos e a orelha voltava pra onde nunca deveria ter ido. Isso foi me cansando até que eu sentei na calçada enquanto passava um caminhão de lixo, eu acho, e uma mulher, ou um homem com um cachorro, ou um homem sem cachorro, perto do poste cheio de lixo, e eu sentei perto desse poste porque precisava ser naquela hora o acerto com a sandália, ajeite-a com paciência e mais 8 passos ela tornou a sair do lugar. Eu chorei. Afinal de contas era o que me restava. E por fim já estava atrasada pra terapia, tive que andar mais rápido contando com as paradas que a sandália exigia de mim. E eu chorava. Eu gosto muito dela. Muito mesmo. Era triste ver que ela, ela que eu comprei, também estava me decepcionando. Fui chorando, concertando a sandália, chorando, concertando a sandália, as vezes os dois juntos, as vezes nenhum, e a raiva foi crescendo, fiquei com vontade de socar o poste, o lixo, até que cheguei. Cumprimentei mal o porteiro, arrumei a sandália, chorei mais um pouco, ela me mandou que aguardasse no corredor, e eu odeio quando ela faz isso, porque o corredor não tem cadeira, só lá na frente onde ela não pode ver e não vai até lá chamar, então eu sento no chão em frente a porta e hoje na agência de viagens que fica ao lado tinha muita gente, uma família parecia, todo mundo feliz. E eu lá sentada no chão com a mochila entre as pernas lendo, e eles felizes, e eu lendo, e o cara saiu, me cumprimentou, e ela abriu a porta e um menino de óculos saiu. Acho constrangedor esse encontro na porta da terapia, você sabe que a pessoa acabou de falar coisas, sei lá, acho desconfortável, sabe que ela acabou de se expor, saber que ela tem coisas a tratar, saber que é gente. Entrei na sala e comecei a falar de coisas outras, e só muito depois falei da sandália, porque eu precisava de um jeito falar dela, era só o que eu pensava enquanto tudo acontecia, precisava falar e escrever, eu precisava falar do quanto isso me incomodou, do quanto estou, do quanto uma sandália pode alterar o caminho de uma pessoa, do quanto eu precisava estar com aquela sandália, comecei falando de outra coisa que acabou nisso e eu chorei e falei da sandália, e chorei, e falei da sandália. Eu posso dizer que hoje eu chorei por causa da sandália.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"O maior preço que se paga pelo amor é ter de ter alguém junto, não se pode ficar sozinho, que é sempre tão melhor"

A.W.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

vamos fugir?


sobre a distância

a distância aproxima de um jeito bonito e cheio de cor.
a distância aproxima de um jeito bonito e cheio.
a distância aproxima de um jeito bonito.
a distância aproxima de um jeito.
a distância aproxima de um.
a distância aproxima de.
a distância aproxima.
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domingo, 2 de agosto de 2009

Ainda sobre essa coisa de crescer

Dizem que faço filmes sobre homens que se recusam a crescer. Sou um homem de 41 anos que ainda vê as pessoas mais velhas como gente infinitamente mais sabia do que eu. Não sei se sou maduro, mas sei que falar de imaturidade é falar da nossa capacidade de perder e de curar, ou não, a dor da perda. Talvez por isso haja muitos jovens nas minhas historias: a juventude tem na imaturidade sua força de descoberta. Judd Apatow

com tempo e cor

A máquina
da alma
com os anos se trava,
e dizem:
- Ao arquivo!
Acabou-se.
Um de menos!
Maiakóvski

Apareço, prometo.

Ontem eu comprei material escolar. Tinha esquecido o quanto isso me dá prazer, essa coisa de início, caderno em branco, caneta cheia, lápis grande, borracha intacta, apontador virgem, tudo isso. Tudo isso é vida, é verdade e não é feio, ou pouco. Estive pensando, e acho que essa coisa de crescer não é de todo ruim. Não, mentira, não é isso. Pensei algo como "crescer e aparecer" e anotei á noite, ontem também quando estava com um sono que há muito tempo não sinto, acho que por causa daquela taça de vinho que tomei com uns amigos, uma amiga inclusive disse que estava tudo combinando: a taça, meu sobretudo, a cadeira, a mesa redonda e pequena, o bar mexicano, a musica do U2, as fotos na parede de carros, o barulho das pessoas falando cada vez mais alto, o garçom estava sofrendo algum problema afetivo, o outro que sofria algum outro problema que já não sei qual era, percebi que sua voz era baixa e a articulação péssima, sei que ali havia problema de alguma espécie, algo que saiu, virou fala mal dita, sorte dele. Mas ela, a minha amiga, não achava que tudo combinava, não, pelo menos não disse, só falou do vinho, do meu figurino, da meia, do sobretudo e tal, o resto eu que achei agora, aquilo tudo era uma coisa só bem lá no fundo. Mas o assunto não é esse, é outra coisa, essa coisa de crescer. Então, pensei que crescer é ficar abarrotado de certezas e gostos já sacramentados, e essa coisa de sacramento me incomoda, é isso que me incomoda. A gente precisa de muita segurança pra virar alguma coisa de fato, por isso o ensaio constante, ensaiar pra vir a ser um dia, quem sabe. Se bem que pensando agora a gente é como qualquer outra coisa que a gente decide e muda de idéia, não precisa ser pra sempre, deve poder mudar e se não puder também eu invento. Que saco isso também, as coisas todas já prontas, parece que alguém manda e a gente sempre obedecendo, um alguém comum mandando e desmandando sem sequer dar a cara á tapa. Eu só preciso acatar e mudar um pouquinho alguma coisa qualquer pra parecer que a regra é invenção minha. Mas eu sei, agora eu sei, que eu preciso obedecer, porque eu não sei bem, não mesmo, até sei, acho que é pra me enquadrar nisso que chamam de vida, pra viver mesmo, nunca pensei, não mesmo que eu fosse tão amadora nessa coisa de vida, a gente, a gente não, eu preciso aceitar isso, isso e muitas outras coisas, aceitar só, só e só. Eu prometo, prometo não, mas vou tentar. Esse período eu me comprometo a fazer as pazes com a vida, se é que um dia a gente esteve numa boa, mas a culpa não é, nem nunca foi minha, pode ver quanta gente aí também não se dá com ela, acontece que ela é muito difícil, autoritária, não sei, mas fazer o que, eu dependo dela e acho que isso não deve mudar, há que se ter paciência e entender que tem gente que é difícil mesmo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pérola de Clarisse

Ser de uma forma qualquer. O que é isso? Giramos e giramos, todos nós, e sempre voltamos ao mesmo ponto. É tudo tão incerto... Se nada houvesse de mais evoluído, a ostra em sua concha deveria bastar. Não tenho a concha, mas eu não sou solitária não, eu tenho muitos amigos. Tenho condutores por mim, parada ou em movimento, eles apreendem todas as coisas e as conduzem através de mim. Eu me animo e escrevo, sinto com os dedos e fico feliz, eu só estou triste hoje porque eu estou cansada, de modo geral eu sou alegre. Tocar com a minha uma outra pessoa é quase o máximo que eu posso resistir. Bom, agora eu morri, por enquanto estou morta. Eu acho que quando eu não escrevo, eu estou morta. Vamos ver se eu renasço de novo.

Trecho de uma entrevista exibida na exposição "Clarisse Lispector – A hora da estrela"


 


 

a chave de casa


- A chave de quem?

domingo, 26 de julho de 2009

quanto tempo

"você precisa tomar um sorvete na lanchonete,
andar com a gente,
me ver de perto,
ouvir aquela canção do Roberto
Baby, quanto tempo"
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é impressionante como a não-presença traz coisas tão melhores.
hoje você voltou de um jeito que nunca esteve.
foi bom te ter aqui por dentro.
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...2 anos 5 meses de conhecimento real...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Breve manifesto formal

É como se eu tivesse parado, não no tempo, durante não sei quantos anos, em mim. Agora me empurram pra fora. Tem presente mais caro que esse? Não tem. Paguei um preço mais que justo. E é só. Obrigado.

Detesto dar nome aos bois.

Percebi que nas relações eu agia como nos acontecimentos.

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- Sal.

- Á propósito, Graça fez uma sopa ontem muito apimentada...

Isso não te interessa.

Meus casos que permeiam, mas nunca assumem a causa real numa conversa casual é apenas um canal que anuncia novas temáticas:

- Ah, essa coisa de pimenta é difícil de dosar mesmo. Uma vez (...)

Ninguém nunca tinha reclamado. Todo mundo adora novidade, eu espertamente decidi sê-la. Entendo que existem idéias que não admitem desvios e não as condeno por isso, é só uma questão de ser mais amarrado que. Característica genial? Pessoas que amarram tão bem suas idéias que ninguém é capaz de desatar ou somar? Decidi que quero ser gente, definitivamente, essa coisa de "gênio" não é pra mim. Descobri que desenvolvi um olhar pessoal sobre tudo e qualquer coisa. Uma frase já é coisa demais pra codificar. Não sei ouvir, acho, melhor: não sei ouvir muito, por incapacidade mesmo, longe de culpas ou arrogância, sofro de excesso, e é só isso. Faz tempo eu deixei de entender o que se quer dizer pra entender o que eu acho que é dito, de um jeito bem claro pra mim, só pra mim, e eu sei disso e me orgulho também. Essa mania de ser em excesso ainda me leva longe, mais longe.

E é só isso.

Até!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

sobre esses franceses

Sinto que preciso escrever alguma coisa que ainda não maturou - processo é insano e corrosivo.

Estava lendo um livro que ninguém conhece, nem eu, não sei quem é o autor, nunca ouvi falar do título e sequer sei a nacionalidade, mas ele me escolheu. Ando carente de atitude desse porte, os livros, sempre eles me salvam dessa insanidade da escolha. Eis que no meio dessa viagem fui apresentada por uma amiga numa conversa, que deveria ser uma corrida e acabou com sorvete Itália, loja Vivo, atraso pro ensaio, tudo, menos algo físico - não sei se sou eu ou ela, acho que é isso que a gente vira, um grande acaso - a dois artistas franceses encantadores que desviaram minha semana.

Sophie Calle.

Ela é fundamental na sua forma de transformar a vida em arte, uma espécie que surge com algo que a gente fica se perguntando como foi que isso tudo começou.


"Eu queria que ele me escrevesse uma carta, mas ele não o fazia. Um dia, li meu nome, "Sophie", escrito no alto de uma página branca. Fiquei esperançosa. Dois meses depois do nosso casamento, vi debaixo da sua máquina de escrever a ponta de uma folha. Puxei-a e descobri a seguinte frase: "Quero te confessar uma coisa, na noite passada beijei tua carta e tua foto." Continuei a ler de baixo para cima: "Um dia você me perguntou se eu acreditava em amor a primeira vista. Eu cheguei a responder?" Só que o bilhete não era pra mim: no alto havia um H. Risquei o H. e coloquei um S. Essa carta de amor passou a ser a que nunca recebi."

Grégoire Bouillier.

Espantosa essa capacidade humana de colecionar propósitos. Ele escreve como mulher e levanta questões assexuadas.

"Apesar de todos os inconvenientes tive razão de não trocar e de me recusar a substituir essa lâmpada enquanto fazer isso não tinha significado para mim, a minha obstinação não era absurda de jeito nenhum e foi necessária toda aquela festa para que eu me desse conta e atravessou-me a idéia de que esta talvez só tivesse acontecido para chegar a esse resultado esplêndido e extraordinário, e seja como for, incontestável que foi trocar uma simples lâmpada no banheiro e na frente do espelho por pouco não me acabei de rir diante do meu reflexo e diante do mundo que insiste em resolver problemas a partir deles mesmos, sem nunca se preocupar com o significado que eles tem e devem ter para nós."

quarta-feira, 15 de julho de 2009

o segredo

nunca se está completamente equivocado, ou completamente certo, nada é completamente.



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. resultado de uma conversa cheia de opinião.

domingo, 12 de julho de 2009

o que já não é

é importante se saber nesse exato
por hora é isso, quando só
quando não só é outra coisa
a arte de nutrir-se de si
como o sol que tem luz própria
não ser o passado
ser nada agora
esse riso escancarado
esse desespero sabe que algo está por vir
essa vontade de que venha logo
isso ou aquilo que pode já ser
por não querer vir
algo sempre sucede?
não ser passagem
ser já
isso que não se sabe
que vê de longe
que não tem grupo
que não carece de muitos
nem de si
não tem nome
nem apetite
nem anseios mundanos
não carece

segunda-feira, 1 de junho de 2009

conceito: Idéia aberta

Manual about me

minhas idéias fixas não duram mais de uma hora.
evite contrariar com excessivo vigor, por uma questão de entendimento humano, pois num tempo indiretamente proporcional á força e insistência de suas idéias eu faço minhas as suas palavras.

Me declaro de saco empanturrado de gente conceitual. Não existe conceito existe gente e coisa que é, e isso não é um conceito, é uma idéia que pode mudar, uma idéia aberta. Existe uma diferença gritante entre levantar a bandeira de uma idéia ou tê-la despretensiosamente, pelo menos é nisso que tenho acreditado nos últimos tempos, porque acreditar ainda é preciso, mesmo que nessas questões aparentemente ínfimas. Hoje fui presenteada com uma entrevista do Nelson Rodrigues, ele tem um termo interessantíssimo: canalha fundamental. Segundo ele, é o que somos, os jovens. Achei o termo cabível e compatível com o pensamento inicial desse texto. Esse excesso de pensamentos que precisam parecer sólidos – é importante dizer e assumir que só me irrito com essa gente porque já fui legitimamente desse clube, e das piores, daquelas insuportáveis, devo ser ainda, de alguma forma, mas quero, preciso me livrar desse fardo, dessa mala pesada de idéias profundas e bestas. Ele termina a entrevista dando um conselho impagável aos jovens:

- Envelheçam o mais rápido possível!

É de uma genialidade vergonhosa. Discurso de um cara que nasceu velho, mas agora, só agora ele pode ter essa clareza de opinião, e é justíssimo, aceitável, compra quem acha que deve, mas só os que estão aptos á comprá-las, somos nós, iniciantes, porque os outros mais velhos já estão prontos – talvez seja esse o grande mistério: envelhecer cheio de idéias abertas, isso enfraquece o sujeito, mas o enche de si, aquele que ouve, ouve, ouve e no fim é quem sai no lucro, algo como a arte de envelhecer sem a necessidade de falar do que sabe, sem o peso vaidoso de coisas vividas – e pode ser que daqui há uns 20 anos talvez possamos formular algo que realmente mereça ser ouvido e tenha cacique de ser comprado.

sábado, 30 de maio de 2009

O fim do Noel

Desculpa, mas eu não sei pegar na mão de ninguém, e sinceramente, nem quero. Acho que as coisas, se não são, deveriam estar ou parecer além de tudo isso aqui, sem esforços, como diria uma amiga budista. O que eu mais odeio da vida é essa capacidade que ela tem de mostrar pra gente que acreditar não serve pra nada. Eu to cansada, exausta de acreditar. Me lembra minha infância, parte dela, principalmente quando me foi dada a noticia da inexistência do Noel. O chão me fugiu, nada mais fazia sentido, porque antes tudo fazia: a luz vermelha na janela, o passeio pouco antes da meia noite. Sim, eu sei que esse último era uma bandeira e tanto, mas eu não queria perceber, não mesmo, e se tivessem me concedido um único pedido que fosse, ele seria algo como: não me falem sobre o que não existe mais. As coisas não podem deixar de ser assim, desse jeito. Não faz sentido. Posso? Não eu não queria ter desacreditado tão cedo, porque uma vez que a gente desacredita, pronto, nada mais se consolida, ou ganha cor, tudo se dissolve antes do tempo previsto, tudo deixa de existir antes do prazo de validade, porque a validade passa a ser inventada em prol de um sofrimento menor. Nada passa do ponto, se esgota antes pra que não haja o risco real. Só que isso cansa. E muito, porque a gente dissolve aos poucos, não se morre pra depois nascer, se morre durante um tempo maior, devagar, e parece que cada dor dói mais porque a gente sabe que logo depois virá uma outra que vai um pouco mais fundo. O meu filho não vai saber nada sobre esse tal de Noel, e eu ainda vou alertá-lo sobre a mentira existente em todos os outros lares pérfidos e falsos, só pedirei a ele que não fale sobre isso para o bem geral das suas relações. A ele darei o direito de sofrer com questões reais, quero que ele caia fundo no que existe. Honestamente, eu não entendo, não mesmo, nada, sobre a importância dessa mentira logo cedo. Essa foi a mentira que eu mais acreditei, não foi a única, lógico, mas sem dúvida foi só nela que eu me permiti afundar e depois nascer de novo, que eu me permiti não, essa prepotência que não me deixa, eu caí mesmo, sem saber, sem querer, sem me deixar. Acho que a crença não é de todo mal, ela é bem responsável pela nossa continuidade existencial, mas hoje, sinceramente eu creio pouco pra não doer, não sei deixar por completo, não sei se é o caminho, pra mim ao menos, também não sei que caminho é esse. Mas acho que tem haver com não chorar nunca mais, deve ser porque choro por pouco, vontade de chorar por coisas maiores, sei lá. Ninguém pediu minha opinião na época, e esse erro eu me concedo cometer, sem perguntar eu já vou logo esclarecendo que não existe ninguém que vêm pela chaminé, de trenó com veados ou sei lá o que. Posso até inventar outras coisas, outras pessoas, mas nada desse nível, nada que envolva tanto, que exista em cada shopping, na TV, na escola, na cabeça, na carta, no presente, no sonho. É existência demais pra ser diluída assim, numa conversa de 5 minutos num quarto cheio de brinquedos, muitos presenteados por esse mesmo que acaba de não existir. Noel que me desculpe, mas se depender de mim, ele não engana mais ninguém.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Etapa 2 – fragmentos 8 ½ de fellini

- O que é esta faixa de felicidade que me faz tremer e me dá forças? Desculpem, eu não tinha entendido, não sabia, como é justo aceitar, amar vocês, e como é simples! Luísa, sinto-me como libertado. Tudo me parece bom,tudo tem um sentido, tudo é real. Como eu gostaria de saber explicar, mas não sei dizer. Pronto, tudo está de novo como antes, tudo está confuso. Mas esta confusão sou eu. Eu como eu sou, e não como eu queria ser. E não tenho medo de dizer a verdade, aquilo que não sei, que procuro e não achei. Só assim eu vivo, e posso olhar nos teus olhos fiéis sem sentir vergonha. A vida é uma festa, vamos vivê-la juntos. Só direi isso Luísa, a você e aos outros. Aceite-me se puder. Só assim podemos tentar nos encontrar.


 


 


 


 

- Não sei se o que disse é certo, mas posso tentar, se me ajudar.


 

fim

Etapa 1 – fragmentos 8 ½ de fellini

 - Como você é linda! Eu fico sem graça como um adolescente. Não acredita que transmite um fascínio verdadeiro e profundo? Por quem está apaixonada? Com quem está? De quem você gosta?

- De você.

- Chegou bem a tempo. Porque sorri assim? Não consigo saber se está julgando ou absolvendo, se está me gozando...

- Estou escutando. Você ia me falar sobre o filme. Eu não sei nada.

- Você seria capaz de começar sua vida do início? Escolher uma só coisa e ser fiel a ela... Fazer dela a razão da sua existência? Uma coisa que se torne tudo, pois a sua fé a torna assim? Você seria capaz? Por exemplo, se eu dissesse: Cláudia...

- Para que lado? Não conheço o caminho. E você seria capaz?

- Devemos estar perto da nascente. Vire aqui. Não esse tipo não é capaz. Ele quer ficar com tudo. Não sabe renunciar a nada. Muda todo dia de caminho por medo de escolher o errado. E está morrendo á míngua.

- E o filme termina assim?

- Não. Começa assim. E depois ele encontra a garota da fonte, uma das que servem água. Ela é linda. Jovem e antiga, menina e já mulher. Autêntica, solar. Não há duvida: ela é a sua salvação. Você estará de branco, com esses mesmos cabelos longos. Apague os faróis.

- E depois? Vamos embora daqui. Esse lugar me assusta. Não parece real.

- Pois eu gosto muito.

- Não entendi quase nada dessa sua história. Um tipo como o que você descreveu que não ama ninguém, não comove, sabia? No fundo a culpa é dele. O que ele espera dos outros?

- Acha que eu não sei disso? Você também é dessas que enchem...

- Você não aceita críticas, não é? Está engraçado com esse chapelão e essa maquiagem de velho! Não entendo. Ele acha a garota que pode devolver-lhe a vida e a rejeita?

- Porque não acredita mais.

- Porque não sabe amar.

- A mulher não faz o homem.

- Porque não sabe amar.

- E, sobretudo porque não quero outra história mentirosa.

- Porque não sabe amar.

- Lamento ter feito você vir até aqui. Peço desculpas.

- Que salafrário você é! Então esse papel não existe?

- Você tem razão. O papel não existe. Nem o filme existe. Não existe nada em parte alguma. Para mim, o caso poderia se encerrar aqui.


 

fim

terça-feira, 12 de maio de 2009

estrangeiro

Eu preciso dizer uma coisa. É que as coisas mudaram, sabe. Eu não rio mais de tudo, não tenho mais cabelo grande e nem acredito mais em pessoas, você acredita? Pois é, quem diria, dei agora pra ir contra o que sempre fui a favor. Mas a vida é assim né? Deve ter haver com essas mudanças que desencadeiam sofrimento exacerbado que quase sempre levam a alguma coisa muito boa depois. Eu apenas tenho me ocupado em estar nas coisas mais simples sem muitos artifícios. Tá bom, não é tão fácil não. Mas pelo menos eu me esforço, e você? Continua aí parado, andando, sei lá, mas sempre aí, com essa mesma cara, postura. Que saco isso! Me irrita, sabia? Queria que você fosse outro, diferente daquele, porque eu já não sou mais aquela. E essa não se interessa por aquele, mas por um outro, quem sabe? E mesmo sendo outro você ainda seria um pouco daquele, isso facilitaria a nossa situação. Mas não, você parou. E não me venha com a história de que eu ainda nem vi nada, de que é só impressão. Não, eu sei que não é. Essas coisas a gente não precisa conversar mais do que 1 minuto pra saber. Você continua manso. Eu odeio gente mansa. Que saco! Com as mesmas histórias, os mesmos tempos. Eu gostaria, é isso que vim te dizer, que você mudasse, alterasse, acelerasse seu tempo. Isso, pra que a gente falasse pelo menos do passado, pelo menos. O passado é tão bonito, sabe. Esses dia mesmo, estava lendo uma espécie de diário que escrevia lá pelos 13 anos, é impressionante como a dor vira outra coisa, quando é nossa, quando a gente lê, ficou bonito sabe, parecia filme, os encontros, as questões, tudo pequeno, no seu tamanho e lindo. É por isso que você não tem o direito de se materializar dessa forma comum. No presente as coisas tem de ser grandes. Eu queria você estrangeiro. Gente nova. Será que não dá pra você fingir pelo menos? Me olhar diferente, sei lá. Mudar de profissão, ter outra banda, mudar o corte de cabelo, tudo bem, eu sei que você não mora mais em santa, mas botafogo? Regredir também não dá. Botafogo só tem sinal, carros e pessoas correndo. Então, é meio isso. E é bom que você faça alguma coisa, não por mim, por você. Será que é possível? Só o cabelo pelo menos, eu prometo tentar. Pometo não. Eu vou tentar.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

domingo

- Hoje você está tão feliz. Ontem você não me parecia.
- Mas ontem era domingo.
- Como é que você sabe que ontem era domingo?
- Muito simples: ontem eu estava triste.
- E daí? Essa explicação não me parece lógica.
- Por que?
- Ainda ontem eu perguntei a você que dia era e você não soube responder...
- É que na hora que você me perguntou, eu devia estar feliz. É isso...

não costumo colocar trechos sem autoria, mas nesse caso abri excessão, se tratam de palavras enviadas por uma amiga que veste essa sensação. é tão legítimo, tão dela que era preciso que eu, ou qualquer pessoa, fizesse com que isso fosse parte de algo que pertence a um todo. hoje conversei no telefone com uma outra amiga de pouco tempo que me faz um bem, que me traz vida. percebo pouco a pouco que são essas pessoas que carregam minha vida em suas mãos, minha organicidade depende de alguns raros contáveis no dedo.

fica aqui o registro de uma menina que têm uma questão interessante com o domingo.
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

questão de ego

"um homem com uma dor, é muito mais elegante"

leminski

eu não sei o porque disso tudo, mas eu prometo que vou embora quando entender. não quero solucionar, é sério, quero, quero não, preciso, preciso entender pra depois então desistir. desistir já no fim, disistir no último dia é uma boa, ninguém saberia que foi desistência, posso vibrar comigo, posso me alforriar por mim sem medo, medo nenhum de ser mais uma crise vaidosa. não sou tão vaidosa assim, vai. faz tempo que isso já foi embora, essa coisa de vaidade. mas parece que não percebe. será que dá pra entender que o que ainda está me mantém acordada, me faz insistir em ser alguma coisa. desse jeito eu acabo por desacreditar de mim. me divido e a questão é saber o que fazer com o que fica. não dá pra ficar só com essa parte, essa parte é pouco, frágil, alma pura não aguenta esse peso todo. não aguenta ir nem ficar. ficar, ficar, ficar pra que? e com o que? a gente vive pra aprender a viver, se cerca de defesas pra que tudo aparentemente doa menos, aparentemente não, realmente, tenho certeza que dói menos, tem menos vida, mas aí é outra questão, o caso é que doer dói menos, bem menos, amortece as quedas, é isso, não elimina, amortece, e agora sugerem que jogue fora tudo isso? o discurso é tão convincente que dá enjôo. enjôo de si, agora me diga uma coisa: o vômito vai pra onde? sai de onde?


"procuro nas coisas vagas ciência
(...) e a alma aproveita pra ser a matéria e viver"
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a lua hoje merecia mais . . .
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não tenho estrutura e nem sei se mereço apreciar uma lua como essa. . .

quarta-feira, 29 de abril de 2009

astrologicamente falando

(...)
"Na realidade, em todas as Eras houve dificuldade em se equilibrar os dois signos envolvidos. A humanidade passou boa parte da Era de Peixes tendo sua capacidade de análise e discernimento (simbolizada por Virgem) bloqueada por crenças impostas de cima para baixo. Quando, a partir do século XIX, o espírito científico começou a se desenvolver, daí foi Virgem que assumiu a supremacia. Descartou-se tudo o que não se podia explicar e iniciou-se um período de excessiva racionalidade e fragmentação, que resultou no surgimento em massa de doenças emocionais decorrentes da falta de conexão com algo maior (por que você acha que tantas pessoas se drogam no mundo?).

A Era de Aquário não é, portanto, uma Era que automaticamente vai nos conduzir a fraternidade, a um entendimento extraordinário de quem somos e do que o mundo é, a uma nova forma de organização, a uma descoberta sem precedentes de nosso poder mental e a um uso adequado dele. E por que não? Porque Aquário não é um signo melhor do que Peixes, assim como Peixes não é melhor do que Áries, assim como nenhum signo é melhor do que outro. Em cada Era, nós temos escolhas a fazer. A tecnologia, principal promessa da Era de Aquário, tanto pode nos levar a uma separação do nosso lado instintivo, tornando tudo excessivamente lógico e frio, como pode ser tão aperfeiçoada que nos leve a sanar os problemas que até agora criamos com o uso dela. A penetrante mente aquariana tanto pode nos levar a finalmente rompermos com antigos comportamentos danosos quanto nos trazer agitação, alienação e rebelião, sintomas já presentes atualmente. A Era de Aquário será, sem dúvida, caracterizada por uma grande mudança em relação às outras Eras, porque isto faz parte do símbolo de Aquário. Mas isto nos levará a um mundo realmente melhor? Afinal, quem tem razão: os intelectuais que prevêem um mundo frio, excessivamente racional e controlado, ou os místicos que falam em uma era de amor?

O potencial da Era de Aquário seria para que nos víssemos como uma só raça (já que até agora nosso passatempo foi nos aniquilarmos mutuamente), e, a partir disso, nos uníssemos, sendo capazes, por esta razão, de avanços inimagináveis, e de criarmos um novo sistema de vida, que rompesse integralmente com o que de negativo vivemos até aqui. Uma Era de Aquário realmente avançada também não descartaria que viéssemos a realizar um intercâmbio com outros habitantes de outros planetas, seja através do desenvolvimento de tecnologias revolucionárias, seja porque finalmente estaríamos prontos para isto. Uma Era de Aquário ‘bem feita’ teria de ter presente os atributos positivos de Leão, como a valorização do indivíduo e da criatividade, do coração e do calor, para que a sociedade não se tornasse por demais fria, mecânica e lógica. O bem estar do indivíduo (Leão) teria de ser levado em consideração tanto quanto o bem estar do grupo (Aquário), pois um não pode predominar sobre o outro sem que isto gere desequilíbrios. Só que a Era de Aquário não vai trazer tudo isto ‘de bandeja’. Nós teremos de conquistar esta ‘promessa’ positiva que está embutida nela. Estaremos sendo chamados a escolher tanto quanto fomos em outras Eras. Por exemplo, a Era de Peixes poderia ter sido muito especial em termos de compaixão, abrandamento de nossas características mais destrutivas e agressivas, e não o foi. Ao invés disso, apareceu o lado negativo de Peixes, como a cegueira, a incompreensão e a histeria (as Santas Inquisições, por exemplo).

Você talvez se pergunte o que pode fazer, como indivíduo, para que possamos realmente começar uma nova Era, um novo tempo, transpondo para o coletivo o potencial que já existe em indivíduos mais evoluídos, mas que nunca existiu em escala maior. Simplesmente desenvolva o lado positivo de Aquário. Olhe mais para o coletivo. Interesse-se mais por ele. Não veja a sua vida como limitada apenas a sua casa e às pessoas próximas. Enquanto houver pessoas miseráveis e escravizadas no mundo mesmo o mais lindo recanto com a maior harmonia poderá ser atingido. Aquário quer dizer que todos somos um povo só. A hora em que nos virmos como o povo da Terra, que é por ela responsável, aí sim estaremos entrando em uma nova Era. Sem o desenvolvimento disso, a Era de Aquário será como todas as outras, até que resolvamos mudar. A escolha será de cada um de nós. "

ando pensando muito sobre.
existe tanta coisa para além-tudo.
deve explicar alguma coisa.
o artigo inteiro é bem interessante.
tem dimensão, se distancia da escala óbvia humana e medíocre.
percebi que tenho pânico do que é médio.
é a única coisa que sei não querer.
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terça-feira, 21 de abril de 2009

coresnocaio - sobre tantas pérolas

"Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (...)então eu não sentia nada, podia fazer as coisas mais audaciosas sem sentir nada, bastava estar atenta como estes gerânios, você acha que um gerânio sente alguma coisa? quero dizer, um gerânio está sempre tão ocupado em ser um gerânio e deve ter tanta certeza de ser um gerânio que não lhe sobra tempo para nenhuma outra dúvida..."

"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa"

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!”

“Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, duas décadas de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, ,veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara.”
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"Pensar é ainda fuga:
aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar.
Entrar nela significa viver."
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trechos submersos do caiofernandoabreu
eu preciso de palavras que me levem embora daqui, como essas, mas sem fim.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

algo cenicamente também (ainda) não dito

Andei pensando sobre essa coisa de dizer algo. A necessidade, a urgência de dizer. Pode ser uma angústia pessoal: a dificuldade de dizer o que precisa ser dito, mas acho que não. Talvez seja o mal do século: falar alguma coisa sobre uma outra, que dá na outra, que dá na outra, que dá na outra...

Vamos lá.


Você acende o abajur do canto, apaga a luz mais forte pra criar um clima e começa a falar. Diria, por exemplo: Como você sabe, a gente, as pessoas infelizmente têm essa coisa, emoções... Talvez eu perguntasse: Infelizmente? Você continua: Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente (você insiste), infelizmente nós temos emoções.

Tem uma citação do caio que é assim:
“as pessoas falam coisas,
e por trás do que falam há o que sentem,
e por trás do que sentem há o que são”.
É por causa dessa falta de controle que você diria isso, eu imagino. Essa coisa de não saber quando chegou o fundo é difícil de lidar.

Há meses que eu espero pelo momento certo, pelo texto certo. Essa coisa de expectativa só serve pra deixar a gente sem ter o que dizer na hora.
(encho o cálice de vinho) Bom, nesse silêncio eu preciso fazer alguma coisa, talvez coloque uma música ou ensaie um gesto, ou talvez não faça nada. Por um momento eu posso pensar em chegar mais perto com o coração a mil, mas você não diz nada. Eu penso num corredor escuro, e me vejo andando como uma cega que pressente o vazio, o poço que vai afundar. Penso em acender a luz, dar uma gargalhada ridícula, acabar de vez com isso. É muito fácil fingir que tudo estaria bem, que nunca houve emoções. Logo depois, um minuto depois eu penso em deixar o cálice na mesa e ir em direção a esse cara que olha pra dentro. Penso em dar um beijo. Vou desejar decifrar esse corpo com a língua, romper todas as barreiras do medo do nojo, beber todos os líquidos, sugar todos os cheiros até que a gente possa virar um só, de luzes apagadas e roupas no chão. Logo em seguida percebo que eu não serei ele e que ele não sou eu. Desejaria manter esse estado, esse desejo. Mas ele não saberá de nada se eu continuar com medo que uma palavra ou gesto destrua essa cena bem armada, em que cada vez mais mergulho em mim, nas minhas emoções, enquanto ele esfrega as mãos no joelho quase inocente e me espera terminar o que comecei.
Você continuaria ausente de tudo. E a cada manhã eu vou me olhar no espelho, notar novas rugas, certa do futuro que me espera. Não poderei voltar atrás, e sei que qualquer coisa que eu diga não vai dizer o suficiente pra me levar pro céu ou pro inferno. Mas sei também que tudo vai passar um dia, tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Só não vou saber que naquele momento exato eu teria a beleza insuportável da coisa inteiramente viva. Eu acendo o abajur do canto da sala depois de apagar a luz mais forte pra criar um clima. E finalmente, começo a falar.
uma adaptação bem livre do conto natureza viva do caio.
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domingo, 29 de março de 2009

falta

É um estado antes de qualquer coisa doído. Não saber muito bem o que se é, o que será, e principalmente o que se quer ser. O medo é de afundar e não voltar mais, de mergulhar em si de uma maneira. Abismar-se. Não sei mais validar relações, considerar questões externas, é um lugar meu, egoísta e feio. Resolvi marcar um encontro. No que deu? Não deu, parece aversão a qualquer gesto ou ação que aflore sentimentos que venham do mundo. Quando decidi no início do ano que passou que daria uma chance pro mundo, estava era tentando me salvar dessa miséria que me torno quando aceito minha condição essencial. Eu queria poder ser como se deve, como se dói menos, mas acabou que doeu mais. Voltei cheia de cortes que não sei se saram. Voltei longe de mim e longe do que achei que havia me aproximado. Melhor, não voltei ainda, eu acho. Viajo de volta pra mim. Pessoas se perdem e largam minha mão justamente na hora em que poucas mãos me restam. Uma pessoa em especial me faz falta, as outras também, mas ela é alma pura, é de verdade. A exposição dos gêmeos me lembrou-a, a fossa pós-encontro recheada de choro exacerbado me fez resistir a uma ligação. “Você tem essa coisa de chorar...”. Ela disse uma vez, e participou de muitos acessos. Vi uma peça “Bodas de sangue”, tinha uma menina em cena que só eu e ela sabemos quem é – pra gente, é claro. E mais uma vontade de ligar... Pessoas se perdem. O menino do encontro me disse algo como: é bom pensar em que tipo de pessoa você está falando... Ele quis dizer: a gente perde o que nunca teve. Senti, no olho dele. Ele é estranho, tem um tempo diferente, mas é interessante. Uma amiga certa vez me disse que o que fazia com que ficasse por mais tempo com um rapaz era a vontade que tinha de decifrá-lo. Tem gente que “esfinge”. Não tenho muito o que falar, aliás tenho muito, por isso a dificuldade. Ontem vi um filme chamado: “Império de sentidos”, agucei sentidos, o filme me levou um pouco mais pra mim. Primeira vez que fui minha. A única coisa que tem me movido é a necessidade de sair do chão, a acrobacia é a única que permanece, ali, comigo pro que der e vier. E eu a deixei por um ano. Taí a prova de que não sou muito boa gente. Trapézio de balanço, a gente fica paralela ao teto, voando, depois se lança para os pés, a gente acredita nos pés, na capacidade das nossas pernas de nos sustentar, tanto quanto o braço, eu tremi, mas fui, acreditei. A única coisa que tem me restado é acreditar em mim, em partes de mim, até que eu possa acreditar no pacote. Por agora, acredito no meu pé, nas minhas pernas também, mas essencialmente nos meus pés. O trapézio é meu único. Meu único, não sei bem o que, mas sei que é. Senti vontade de ligar também depois dessa situação com o trapézio. Pode parecer que não ligo por orgulho, mas não é. Não ligo por estar sangrando. Por acreditar numa ligação para além da invenção de Graham Bell, por saber que ela me sabe sem que eu diga uma palavra, por não saber dizer uma palavra, principalmente por pensar que se não for agora, não será mais, nunca mais, porque no fundo nunca foi. Tenho saído muito com meus pais, acho que é uma busca de mim, uma pesquisa autobiográfica, eles são os únicos que não me deixam.

segunda-feira, 23 de março de 2009

algo que passa

É horrivel perceber que algumas relações são frágeis, de vidro barato.

Se notar ausente de todos ou quase todos que outrora eram parte de algo, parte do vazio. Quando a mudança parte de dentro, não há pedido, carta, lampejo que te faça ir contra essa força toda. Veio de dentro, desculpa, mas agora, por agora, é fundamental que seja assim. Bom, caso resolva entender, paciência se não. É por essas e outras que pessoas se perdem. Quem ficar vence o jogo. Jogo difícil, ingrato, que exclui por hora, mas não, nem nunca pra sempre, porque quem é pra ser junto, é. Sem rodeios ou questões que de tão pequenas são risíveis. Ando estafada de julgamentos, cobranças descabidas, as relações são sensíveis, supremas, quando pequenices semelhantes atordoam pode-se dizer que ali não há - naquele exato momento - ou nunca houve o essencial, a comunicação que independe do que se faça, se diga, algo que acontece, que paira, que independe de vontades, vaidades.


Que vença o que é sem rodeios.
tempo
inspiro
tempo
inspiro
tempo
inspiro