sexta-feira, 26 de março de 2021
Grito pandêmico
sem querer
definir não fazer
é quase fazer sem querer
acho delicado o tema, mas vou tentar antecipar essa coisa do não fazer
não pular de assunto pra assunto sem compromisso com o fim ou o meio das coisas
dar tempo pra coisa se manifestar sem querer apressar um dado, um acerto ou desacerto
esgarçar alguma coisa que possa chegar num tipo de limite que não será dado por mim, porque eu não saberia dá-lo
não desejo desejar o fim pra que ele se apresente por ele mesmo
não falar muita coisa porque me parece que já estamos todos surdos demais, falantes demais ou cansados demais dessa coisa que não finda, desse looping que ensaia uma comunicação
por algum motivo eu também não quero dizer muita coisa, eu gostaria de tentar dizer alguma coisa que ainda não tenha sido dita
não dizer mais de tudo que já está sendo dito
uma pessoa, em vida, tem no máximo dois grandes assuntos, com sorte dois, um cansaço que dá de toda essa coisa que não pára de falar na cabeça o tempo todo
desejo antes
desejo de não perder sem saber do retorno
- ai, e ao mesmo tempo vontade de que tudo isso se foda, eu não escrevo pra ninguém
eu quero essa coisa que não termina porque quase que não existe
não quero
não escrever o que existe
inventar um estar no mundo
inventar um antídoto com palavra
eu não acredito mais no longe
eu posso dar o agora o bom do agora o estar agora o olhar agora eu não quero falar de futuro nem de passado eu quero falar do que acontece eu quero que acabe de sair do forno ou que talvez não saia nunca que fique lá eu não quero não desejo emitir nenhum tipo de juízo de valor eu não acho que seja sobre isso agora eu ainda não sei sobre o que é pra mim todo esse processo é meio apavorante porque eu realmente não sei se dou conta de toda essa coisa por dizer com alguém dizendo também isso sempre me pareceu pessoal demais íntimo demais eu não desejo que seja tão mais sobre mim quando entende demais cansa a cabeça não quero me arrepender por não ter dito algo quero que seja preciso urgência em se manifestar manifestação do agora no agora estar no agora pra dar conta de tudo que atravessa não se proteger não falar sobre o que há por trás o que aparece o que vem antes o que chega sem pedir licença o que plana na superfície o que simplesmente acontece não cavar fundo receber o que está na borda pedindo socorro eu quero conseguir escrever um pedido de socorro.
quarta-feira, 1 de agosto de 2018
Aventura
Coma
COISAS QUE NÃO ACONTECEM (Um curta ou algo curto)
terça-feira, 18 de julho de 2017
Sobre buracos, bolinhas e jabuticabas.
Ela estava cansada disso tudo e decidiu, não ela não estava, ela cansou tem pouco tempo, cansou de ver essas caixas todas abertas querendo dizer alguma coisa, cansou de todas essas dores que passeiam pelos seus músculos, e ossos, e vísceras, e tudo isso que ninguém vê, pensou que seria legal abrir um pouco do vestido pra deixar ver, pensou que tinha aquele buraco logo acima e que se tivesse logo abaixo as pessoas poderiam fazer uma associação. Livre. A gente se pergunta o tempo todo o que fazer com esses vazios que ainda insistem em permanecer dentro dessas caixas sem fundo, a gente, no caso seria ela e a outra pessoa dona daquele buraco lá de cima, ele não me assusta, me sôa familiar, ele é um lugar conhecido do qual estou sempre partindo pra depois voltar. sabe o que acontece? eu me visto com esse vestido de bolinha, me abaixo logo abaixo desse buraco, abro um pedaço do vestido percebendo a semelhança entre nós e não sei que fazer com isso, eu percebo que cada bolinha dessa no fundo é um buraco que fizeram em mim, são várias cicatrizes redondas que eu fui colecionando de um jeito bonito e simétrico por não saber fazer diferente. A verdade é que eu nunca soube como dar conta de todo esse espaço pra dentro. Tudo passando muito rápido pela cabeça, movimentar, arrumar as caixas, as caixas eram o foco, o tempo dentro daquelas caixas, mas o que fazer com o tempo dentro da minha cabeça? Oco. Me senti derretendo, mole, tudo mole. Sim, eu sentia vergonha, vergonha daquele vazio todo, de todo aquele espaço a ser preenchido, eu era tudo aquilo que faltava naquelas caixas, naquele buraco, era tudo eu, tudo meu, memórias. Ela precisou ficar abaixada, porque de muitas formas tudo parecia desabar, e junto com isso a casa flutuava, hora se firmava de um lado, hora do outro, e eu ali no canto direito sem saber o que fazer com as mãos. O chão irregular, as paredes tentavam se firmar no prumo, prumo de que mesmo? A jabuticabeira, ainda tinha a jabuticabeira, ela morria a cada dia, assim como a gente morre também, mas esquece de ver, cada jabuticaba que caía vinha direto virar buraco em mim, e esse vestido, quanto mais o tempo passava mais ela era seca e oca, ela quem? securas sem cura. Jabuticaba, buracos, bolinhas, falar com Deus. Não quero mais a certeza das laranjas sempre no mesmo lugar.
domingo, 4 de dezembro de 2016
borbo
os passarinhos aqui de fora não param de cantar mesmo nesse dia cinza.
quarta-feira, 11 de maio de 2016
ansiedade de amor
domingo, 8 de maio de 2016
joga fora
joga tudo fora.
apaga conversa.
apaga foto.
salva tudo num pendrive e manda embora.
manda embora.
tem coisa que não sai de dentro.
puxa que sai.
é sal.
uma coisa sempre gera outra coisa.
isso não muda.
tem opção.
sempre tem.
o que?
dores
- cuida de não se desalinhar com o que a vida te oferta. ela não costuma ser tão generosa, ás vezes as coisas se definem e não tem mais volta. cuida de ter coragem pra escolher e ficar na coisa, mesmo que doa. porque vai doer de qualquer jeito.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
aspire-se
- é pra eu não me doer.
- como é que é? hein? você se dói?
- eu me doo o tempo todo.
- aonde?
- dentro, não sei explicar.
aliás, cada vez mais ela não se sabia explicar (...)
Macabéa o nome dela.
Depois há quem diga que ela era um ninguém perdido no mundo.