segunda-feira, 1 de maio de 2006

Ilusão de um leviano

O olhar disperso da criança que acostuma-se com o fechar de vidros cegos
O circo dos artistas que fazem do sinal seu horário mais fiel
O andar apressado do empresário que planeja o sucesso
O sorriso delineado da mulher que é sócia da esquina
Os braços fartos do escultor de grandes paisagens
O cheiro suave do perfume da mulher
O badalar do sino que simula alguns segundos de ordem
O incansável cantar dissimulado dos monumentos históricos
O eterno peso leve do barroco
A mulher que mantém os braços erguidos à porta da igreja
Difícil dizer se é louvor ou prece
O abrigar insatisfeito daquele que não sonha
A luz do dia que movimenta
A luz da noite que machuca
A solidão clama por um pouso não forçado
O sereno pede que as esquinas sejam acalento
A lua sabe que o abrigar de muitos é o desabrigo
O dia esconde a solidão nos becos
A noite acama a euforia
Empresta lentes para que ele veja o quanto é caudaloso
Enxergar seria bom se não fosse tão doloroso
Antes ser esporádico a não ser
E amanhã assim como ontem os olhos adoram o que não vêem
O que não se pode tocar de tão escorregadio
Ele gosta do inalcançável
Se sente um eterno aniversariante
Esqueceu de abrir os olhos