domingo, 2 de julho de 2006

encontro delicado

Eles se conheceram em qualquer lugar, num momento nada fantástico. Ela vestia calça jeans velha e uma blusa de malha como a calça, ele mal vestia-se: uma bermuda cansada de tantos assentos desconfortáveis, uma blusa que parecia além dele, sua unha estava por cortar, seu cabelo faço questão de não descrever por aqui. Conheceram-se num dia translúcido, algo como 4 de janeiro, 20 de dezembro, dias que se ocupam com anteceder ou preceder, dias que não são, dias que poderiam deixar de existir sem ouvir nenhum apelo, dias que podem se dar ao luxo do anonimato. Ana e Pedro – assim se chamavam – olharam-se com descompromisso, e ouso dizer que naquele momento não se enxergaram de fato. Não existia conflito, não mesmo, ele chegou como quem pede fogo e ele se limitou a emprestar, nem uma cruzada de pernas, nem um ajeitar de madeixas, nada. Começaram a falar e ouvir com um desinteresse confortável. Discutiram política, teorias sociais, econômicas, citaram Marx, Weber, não mais que isso, seria profundo demais, um para cada visão cabia perfeitamente. Concordavam em muitas opiniões, assim o conflito passava cada vez mais longe. Suas grandes causas, fantásticos planos foram aos poucos se apresentando. Viram-se comuns. Existia uma inocência e um quê de banalidade nesse encontro, - não, um encontro não, nesse “acaso”, “encontro” parece tão sonhador. Após horas de conversa Pedro convidou Ana suntuosamente para conhecer seus aposentos. Ana sequer pensou e foi, é importante lembrar que Ana era dotada de uma graça e curiosidade própria de menina, para ela obstáculos eram escadas. Essa menina não conhecia os porquês, tudo era tão simples, fácil e vivo, que chego a acreditar que ela dividia casa com a solução. Lá se foram eles cultuando brisas de outono. Chegaram. Pedro educadamente abriu-lhe a porta, contou-lhe piadas graciosas ou não, deu-lhe uma toalha, mostrou-lhe os cômodos, fez um breve histórico sobre os outros residentes, colocou uma música agradável.
Ana resolvera tomar um banho, enquanto Pedro pôs-se a preparar alguma coisa mastigável. Este era um perfeito e genuíno cavalheiro, sabia como ninguém agradar à moça e rapazes, não distinguia sua atenção por sexo, era cortês por natureza.
Ana ao sair do banho pouco demorado, foi imediatamente ao encontro de Pedro que estava de costas lavando as mãos. Ela não pôde acreditar no que via, sentiu o tempo correr desesperado, só teve tempo de abrir um sorriso desconcertado, seus olhos brilhavam e suas pernas mal podiam embasar seu corpo. À mesa estavam: vinho, taças e um prato, apenas um prato de macarronada.
Se olharam de relance e naquele momento qualquer descrição pessoal ou conhecimento teórico falaria pouco.

3 comentários:

  1. Anônimo12:17 AM

    Maya, agora entendo...
    Ta lindo, amora, lindo!
    Assim, lindo mesmo.
    E, precisamos nos ver mais. E criar historias novas pra contar.
    Beijo, amiga, beijo.
    Tanta saudade daqueles tempos em que as pressoes, os medos e as duvidas eram outras. Crescemos, perdemos um pouco e ja nao sabemos o que ganhamos com isso.
    Queria ser tua Ana.
    Queria escrever um livro de se ler inumeras vezes. E com voce, a quatro maos e infinitos coracoes. Afinal, serah que nessas indas e vindas, a gente acaba por perder um pouco de nos ou robar um tanto dos outros.
    Soh sei que esse quinhao de mundo que conheco ainda eh pouco. Mas contigo, eh sempre muito mais.
    Beijos,
    Amo-te.

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  2. Anônimo9:52 PM

    Adoreiiiiiiii esse texto...
    mto profundo..varios detalhes...conseguir imaginar mto a cena onde se passou o encontro da Ana e do Pedro...
    eh amiga...EH O DOMMMM!!! heheehhe
    te amooo, linda!!

    beijosssss

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  3. Anônimo10:28 PM

    Vai nos brindar com mais uma parte do 'acaso' entre ana e pedro???
    Li esse capítulo ouvindo bettie serveert fazendo cover de uma musica dos carpenters...combinou...

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Fala que eu quero ler.