sexta-feira, 17 de julho de 2009

sobre esses franceses

Sinto que preciso escrever alguma coisa que ainda não maturou - processo é insano e corrosivo.

Estava lendo um livro que ninguém conhece, nem eu, não sei quem é o autor, nunca ouvi falar do título e sequer sei a nacionalidade, mas ele me escolheu. Ando carente de atitude desse porte, os livros, sempre eles me salvam dessa insanidade da escolha. Eis que no meio dessa viagem fui apresentada por uma amiga numa conversa, que deveria ser uma corrida e acabou com sorvete Itália, loja Vivo, atraso pro ensaio, tudo, menos algo físico - não sei se sou eu ou ela, acho que é isso que a gente vira, um grande acaso - a dois artistas franceses encantadores que desviaram minha semana.

Sophie Calle.

Ela é fundamental na sua forma de transformar a vida em arte, uma espécie que surge com algo que a gente fica se perguntando como foi que isso tudo começou.


"Eu queria que ele me escrevesse uma carta, mas ele não o fazia. Um dia, li meu nome, "Sophie", escrito no alto de uma página branca. Fiquei esperançosa. Dois meses depois do nosso casamento, vi debaixo da sua máquina de escrever a ponta de uma folha. Puxei-a e descobri a seguinte frase: "Quero te confessar uma coisa, na noite passada beijei tua carta e tua foto." Continuei a ler de baixo para cima: "Um dia você me perguntou se eu acreditava em amor a primeira vista. Eu cheguei a responder?" Só que o bilhete não era pra mim: no alto havia um H. Risquei o H. e coloquei um S. Essa carta de amor passou a ser a que nunca recebi."

Grégoire Bouillier.

Espantosa essa capacidade humana de colecionar propósitos. Ele escreve como mulher e levanta questões assexuadas.

"Apesar de todos os inconvenientes tive razão de não trocar e de me recusar a substituir essa lâmpada enquanto fazer isso não tinha significado para mim, a minha obstinação não era absurda de jeito nenhum e foi necessária toda aquela festa para que eu me desse conta e atravessou-me a idéia de que esta talvez só tivesse acontecido para chegar a esse resultado esplêndido e extraordinário, e seja como for, incontestável que foi trocar uma simples lâmpada no banheiro e na frente do espelho por pouco não me acabei de rir diante do meu reflexo e diante do mundo que insiste em resolver problemas a partir deles mesmos, sem nunca se preocupar com o significado que eles tem e devem ter para nós."

Um comentário:

  1. ameninasemseculo3:54 AM

    vc é demais amiga
    amo a forma de vc enxergar as coisas!
    os franceses abriram uma caminhada muito maior do que a orla leblon-ipa
    e realmente ele escreve que nem mulher...ou então igual esse fluxo paranoico noiado poetico vital
    que reside de vez em quando por aqui e ai tb.
    rs
    adoro-te
    muack

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