quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Vai pedir o que?



 

Existe um cardápio de gente, existe gente olhando esse cardápio, existe um monte de coisa que a gente sente, mas existe a cabeça, existe a cabeça, existe o pé também, o pé ás vezes abre, abre caminho, abre ferida, o pé faz andar, faz parar, porque ás vezes não tem metáfora, tem só o que é, tem a vida real, tem a fantasia que vai pro ralo, tem esse cara que olha e não vê nada, um olho que quer muito, que quer tudo, um olho de quem nunca teve nada escolhido, um olho que não se reconhece no que tem, um olho que não se sabe, ele está? está fazendo a dieta da proteína, ele não come massa, não come farinha branca, não tem energia pra quebrar, um corpo viciado em apontar, um corpo que não espera pelo o outro, um corpo que não troca, só recebe, um olho que olha e não vê, um excesso de verbo, uma gente que fala até perder a razão, uma gente que gosta de criar castelo, uma gente viciada em destruir castelo, os seus, o dos outros, tudo junto, muita gente sobrando pra muita gente faltando, e tem esse olho, esse é o olho de um homem que quer uma mulher, é o olho de um homem que foi avassalado por um vaga-lume, ele ficou, parou um pouco, perdeu a hora, perdeu os sentidos, perdeu o calor do corpo, perdeu certezas, perdeu o que já não tinha, perdeu o que tinha sem querer mais ter, perdeu, ele perdeu muita coisa pra se ganhar, ele se ganhou e foi embora, ele falou até não poder mais, até que calou, caçador de vaga-lume, olho de quem não sabe o que fazer com tanto mundo, olho de quem não dá conta do que vem depois do grito, olho de quem precisa ser capturado por qualquer coisa sem sentido pra não se perder, olho de gente que jogou o relógio no mar, olho dessa gente toda cinza que anda por aí escolhendo o que comer no sábado à noite.




(Olho comedor de vagalume)
- Viu?
- A mim, me interessa quem come pizza.

 



Antes o banal, fome mesmo, antes a fome real, fome de pizza, 
bem antes
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