segunda-feira, 7 de novembro de 2011

entre tudo que

a verdade é que a verdade não sabe nadar.

sabe tudo que se passa entre uma vírgula e um ponto?

ela chega em casa exausta de um dia de muito caminhar pela praia, ela precisava encontrar hora com uma, hora com outra pessoa especial, sim porque ela não se deixa levar por pouco, taí uma coisa da qual ela se orgulha quando começa uma frase e lamenta no final da mesma, ela chega em casa, passa na vizinha como havia prometido pega umas empadas e uns biscoitos doces, a vizinha diz furiosa que se ela não tivesse passado não haveria de receber mais nada, ela ouve, aceita e pensa que por um segundo decidiu passar, não passaria, mas algo mais forte do que sua mãe no telefone dizendo para não passar, já era tarde, algo mais forte, o barulho da TV ligada no fantástico, a luz acesa, o compromisso assumido mais cedo, ela passa, recebe, ouve, quantas coisas não aconteceram entre ela pensar se passaria ou não? depois ela sobe as escadas encontra a filha da síndica, elogia a nova cor do seu cabelo, percebe o orgulho, se sente bem pelo estímulo causado, continua subindo, quantas coisas não aconteceram entre ela pensar se deveria ou não elogiar o cabelo da vizinha? continua subindo, abre a porta, deixa o chinelo, deixa as empadas na cozinha, coloca a comida no forninho, 10 minutos, o tempo que se dá para um banho, toma banho, responde a mensagem, quantas coisas não aconteceram até que ela decidisse o que colocar na mensagem? vai até a cozinha coloca uma salada no prato junto com o quente, coloca um suco de pêssego, ela toma pêssego sempre que pode pra ajudar na coisa da gastrite nervosa, coloca tudo na bandeja, vai até a cama, ela está só de blusa, sem calcinha como de costume, tira o forro da cama e senta, coloca a bandeja por cima do colo.

o suco cai. quantas coisas não aconteceram nesses segundos em que o copo girou em pé sobre a bandeja até decidir cair de vez?

se o suco fosse de uva, se ela ouvisse sua mãe, se a comida fosse empada, se a TV tivesse desligada, se a vizinha tivesse dormindo, se a luz tivesse apagada, se ela comesse na escrivaninha, se ela não tirasse o chinelo, se ela não reparasse no cabelo da vizinha, se o tempo do forno fosse 15 minutos, se ela tivesse de calcinha e sem blusa, se ela tivesse ligado o suco seria de uva? passa.

o telefone toca.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fala que eu quero ler.