"Sou um caso raro de egocentria aguda com complexo de inferioridade"
FY
MOTIVO: ela reclama sua participação num texto de teatro escrito e finalizado por ele. Até então ela nunca havia falado nada, mas agora, sem medo do conflito a ser gerado em função de uma tpm, ela fala. Algumas pessoas elogiaram o texto, ele está viabilizando a produção dessa peça independente dela, e ela tem feito cadernos na maior parte do seu tempo, ela atualmente abandonou um projeto em que estava apostando 70% das suas fichas por motivo de boicote. Três trechos desse texto foram escritos por ela, e ele só existe porque existe ela, é sobre ela. Ele disse, certa vez, que era um texto para ela.
olha, eu não sei namorar com você, é, passa mês, entra mês e
tem sempre um bocado de caos no meio, quando não é você sou eu, ultimamente tem
sido eu, mas sabe, ás vezes uma brigazinha cai bem, eu não ligo mais, eu acho
que é fundamental, já não acho que é o fim do mundo, já não tenho mais esse
desespero de vida ou morte, de começo ou fim, briga tem que ter, mas eu andei
pensando e talvez isso signifique mesmo que eu não saiba como fazer, porque a
gente lê nas revistas, as pessoas dizem que você tem que ser tranquila, tornar
a vida do outro agradável, só levar coisa boa, caralho, a gente faz o que com a
coisa ruim? sério, eu acho coisa ruim ótimo, eu adoro erro, eu adoro briga,
adoro quando preciso mudar a direção, é isso, sou viciada nessa mudança de
direção, e aí, talvez eu queira mudar nosso rumo o tempo todo, briga constrói,
reconstrói, redireciona acerca de uma temática específica, e quando não
acontece nada disso, pelo menos faz pensar, uma média de uma por semana é
justo, a gente pensa, reconsidera e exorciza o fantasma, sim porque eles não
saem de perto até que você verbalize, não sei você, mas eu, eu sinto que as
coisas passam por mim, me afeitam, me geram enjôo, dor no estômago, conceiras,
tudo, só depois de gerar tudo isso é que ela vira verbo, isso demora sabe,
talvez fosse bom se a coisa fosse mais rápida, se esse processo fosse mais
acelerado, daí eu ia falar na hora a coisa certa e justa, mas não é assim, e
mesmo falando depois a coisa nunca é certa, muito menos justa, em geral é
injusta, porque ela cozinhou tanto aqui dentro que sai completamente alterada e
cheia de sentimentos ruins, mas ainda não consigo fazer diferente, um pouco por
precisar desses choques de mudança, outro pouco por uma questão interna de
tempo, nunca fui boa em tempo, nem em coisa interna, sempre demorei pra saber
que sentia as coisas, eu sentia e só descobria tão depois que tinha sentido que
ás vezes não servia mais, e ás vezes também servia ainda, e aí que morava o
perigo, porque quando ainda servia eu já estava tão sentindo a coisa que já não
dava mais pra sair, não era um sentimento que vinha aos poucos, ele vinha muito
forte de repente e me avisava que já estava lá, no caso aqui dentro, há meses,
e aí eu pegava ele, ou melhor, ele me pegava e me fodia, um tempo todo
desconexo, umas sensações que vinham muito depois, só que ás vezes também, a
boca briga com a sensação, tipo quando eu não quero algo e digo que quero pra
agradar alguém, ou pra agradar a minha figura diante daquele pessoa, mais
honesto dito assim, aí a boca me enche, e eu tenho percebido mais rápido qual é
a minha vontade real, tenho sentido mais esse processo, aí cancelo a coisa e
cancelo meu planejamento de imagem também, mas voltando a falar sobre esse
tempo, nunca fui boa, nunca entendi ele muito bem, mas sempre fui boa com
mudança, só que agora, com você, não to sendo mais, isso me chateia eu acho, me
sinto ás vezes como um peixe me debatendo sem água, mas me sinto também um
peixe feliz porque reconheço meu aquário e tenho uma espécie de paz lá dentro,
não gosto dessa coisa de depender pra ganhar comida, mas também não tenho
dúvida que ela vai chegar, a comida, falo da comida, algumas vezes, tenho
vontade de pular do aquário, mas fico com medo de você não chegar á tempo de me
devolver o ar, porque você pode estar longe do celular, você pode ter ido dar
uma volta, ver a moda, e ás vezes isso é insuportável pra mim, o meu maior
problema é ter uma consciência assustadora de tudo isso, de mim dentro desse
aquário ou fora dele, nesse sentido tudo se torna insuportável, inclusive e
principalmente eu, não sei ainda pra onde que eu levo esses fantasmas, como
faço pra não precisar pular, comer, pra não precisar de devolução de ar, o fato
é que ainda não consigo estar no mundo com você e sem você, você me entende? mas
assim, eu vou tentar, tentar sei lá o que, se a gente não tivesse boca, boa
parte dos problemas não existiriam, criança não briga até 3 anos, só chora, ou
ri, quer coisa mais simples? eu quero.
ps 1: eu gostei da briga de hoje porque ela me fez escrever. quero te propor uma coisa: criaremos um blog nosso, cada briga nossa a gente
transforma em texto, sempre um seu, outro meu, não precisa ser imediato, acho
que pode ser imagem também, pode? depois a gente pensa em o que fazer com
isso.
ps2: na próxima vez eu não mando uma mensagem reafirmando por escrito o que já foi dito, prometo.
ps3: muito possivelmente a gente não vai ser diferente, a gente manera, promete, mas de maneira geral, a gente somado dá muita coisa, por isso o tumulto, eu acho.
ps4: eu poderia ter evitado essa briga e ter falado calmamente com você sobre o assunto, mas aí, seria menos um texto na vida do blog, e na minha vida, na tua, na nossa história.
ps5: eu reli o texto da peça, ele tem 3 textos meus, o fato é que eu tava me sentindo pouco importante sobre ele, quando no princípio, ele era pra mim e sobre mim, e você tem essa mania cafona e chata de se achar genial que me irrita e me deixa sem vontade de achar qualquer coisa, tem semanas que você fala desse texto, desse texto, desse texto, daí eu fiquei com vontade de te lembrar de mim, bem egocêntrica mesmo e um pouco sensível demais também.
"Acho que sim, ás vezes, dou trabalho.
Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser pagar o preço da manutenção, mude para um Passat"
FY
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