segunda-feira, 26 de julho de 2010

Porto

É só pra dizer, pra assumir que há uma diferença entre o que eu penso e o que eu sinto, isso aqui é um breve, não sei se tão breve ainda, mas é um manual de mim. Eu não sei pedir socorro, mas não era isso que eu gostaria de dizer, o que eu gostaria e vou tentar, é que eu digo coisas que eu gostaria de sentir, quase como uma heroína, uma luz que passa onipotente, cheia de si. Acontece que tudo que falei antes era mentira, sim eu minto pra mim, discuto comigo, sempre essa coisa de razão e emoção, eu já to gasta de tanto saber como deve ser e não saber como é pra mim, porque são dois departamentos que precisam cada um atuar na sua área. Aí o que acontece? Eu digo, escrevo, seja lá como for e depois não sei o que faço com isso, não justifico, nem ajo tal como, é uma briga de mim comigo. Absolutamente infantil dito assim, e deve ser, mas por favor, me ajude a entender de algum jeito, escute o que eu não digo, porque é lá que estou. Sei que é pedir demais diante de tanta confusão, tanta coisa mais importante pedindo a atenção da gente, mas eu não sei, descobri agora pouco que minhas palavras me traem. Eu preciso arrumar um jeito de falar tudo isso, mas eu não sei como as palavras, não sei como elas devem proceder, não sei muito bem, não tenho vocabulário sentimental.

Eu quero um porto, um aeroporto, eu quero morar em Paris onde tinha tristeza, eu já tinha me acostumado, eu tenho pânico de felicidade, porque existe amanhã e depois de amanhã.


 


 

"quando eu estiver _________, simplesmente me abrace"


 

...

sábado, 17 de julho de 2010

Conversa com a sua analista

"mas sabemos que essa ausência do querer não existe no universo humano.

Sabemos que é porque queremos isso em vez daquilo,

ou porque queremos tudo ao mesmo tempo,

ou porque queremos no que nos faz mal.

Sabemos a que ponto aquilo que queremos desmancha aquilo que pensamos que queremos.

Sabemos, sim – mas o vulcão do querer é mais violento do que tudo que sabemos ou pensamos.

Inês pedrosa.

(ela disse que precisa ir embora quase sempre porque ficar parece abandono, e ela não se deixa abandonar por ninguém, muito menos por si mesma)

ficar é tão mais difícil, mas como agora tudo parece mais complexo em volta, como agora tem conta que vence todo mês, como agora ela sabe que viver é preciso, ela tenta, ela mandou dizer, mandou prometer que jura que vai tentar

- Mas eu só queria saber o porquê de tanto medo. Você já sentiu assim?

- Já mas agora eu estou diferente, sinto diferente, não sei, conversa com sua analista sobre isso.

- Vou conversar.

- Mas o que você quer?

- Quero ficar.

- É isso. Vamos no Monobloco hoje?

- Te ligo.

- Espero então.

- Mas eu não queria, sabe?

- O quê?

- Querer.

- É difícil mesmo, mas conversa com ela. Liga e diz que quer antecipar.

- Não, eu vou esperar até terça. Eu só queria não sofrer, sabe. Acho que não é a hora disso. Não cabe.

- Tem que ver isso, porque pode ser algo muito mais profundo do que você imagina.

- Antes vocês ficava porque?

- Por vaidade, eu queria ser amada por qualquer um.

- Não é a mesma coisa, não é isso. Quero saber sobre quando foi de verdade, porque o problema, nesse, no meu caso, é a verdade, o encontro, essas coisas que não existem.

- Eu vou lá porque tenho que almoçar com meu pai. Beijo

- Beijo. Te ligo.