terça-feira, 28 de julho de 2009

Pérola de Clarisse

Ser de uma forma qualquer. O que é isso? Giramos e giramos, todos nós, e sempre voltamos ao mesmo ponto. É tudo tão incerto... Se nada houvesse de mais evoluído, a ostra em sua concha deveria bastar. Não tenho a concha, mas eu não sou solitária não, eu tenho muitos amigos. Tenho condutores por mim, parada ou em movimento, eles apreendem todas as coisas e as conduzem através de mim. Eu me animo e escrevo, sinto com os dedos e fico feliz, eu só estou triste hoje porque eu estou cansada, de modo geral eu sou alegre. Tocar com a minha uma outra pessoa é quase o máximo que eu posso resistir. Bom, agora eu morri, por enquanto estou morta. Eu acho que quando eu não escrevo, eu estou morta. Vamos ver se eu renasço de novo.

Trecho de uma entrevista exibida na exposição "Clarisse Lispector – A hora da estrela"


 


 

a chave de casa


- A chave de quem?

domingo, 26 de julho de 2009

quanto tempo

"você precisa tomar um sorvete na lanchonete,
andar com a gente,
me ver de perto,
ouvir aquela canção do Roberto
Baby, quanto tempo"
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é impressionante como a não-presença traz coisas tão melhores.
hoje você voltou de um jeito que nunca esteve.
foi bom te ter aqui por dentro.
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...2 anos 5 meses de conhecimento real...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Breve manifesto formal

É como se eu tivesse parado, não no tempo, durante não sei quantos anos, em mim. Agora me empurram pra fora. Tem presente mais caro que esse? Não tem. Paguei um preço mais que justo. E é só. Obrigado.

Detesto dar nome aos bois.

Percebi que nas relações eu agia como nos acontecimentos.

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- Sal.

- Á propósito, Graça fez uma sopa ontem muito apimentada...

Isso não te interessa.

Meus casos que permeiam, mas nunca assumem a causa real numa conversa casual é apenas um canal que anuncia novas temáticas:

- Ah, essa coisa de pimenta é difícil de dosar mesmo. Uma vez (...)

Ninguém nunca tinha reclamado. Todo mundo adora novidade, eu espertamente decidi sê-la. Entendo que existem idéias que não admitem desvios e não as condeno por isso, é só uma questão de ser mais amarrado que. Característica genial? Pessoas que amarram tão bem suas idéias que ninguém é capaz de desatar ou somar? Decidi que quero ser gente, definitivamente, essa coisa de "gênio" não é pra mim. Descobri que desenvolvi um olhar pessoal sobre tudo e qualquer coisa. Uma frase já é coisa demais pra codificar. Não sei ouvir, acho, melhor: não sei ouvir muito, por incapacidade mesmo, longe de culpas ou arrogância, sofro de excesso, e é só isso. Faz tempo eu deixei de entender o que se quer dizer pra entender o que eu acho que é dito, de um jeito bem claro pra mim, só pra mim, e eu sei disso e me orgulho também. Essa mania de ser em excesso ainda me leva longe, mais longe.

E é só isso.

Até!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

sobre esses franceses

Sinto que preciso escrever alguma coisa que ainda não maturou - processo é insano e corrosivo.

Estava lendo um livro que ninguém conhece, nem eu, não sei quem é o autor, nunca ouvi falar do título e sequer sei a nacionalidade, mas ele me escolheu. Ando carente de atitude desse porte, os livros, sempre eles me salvam dessa insanidade da escolha. Eis que no meio dessa viagem fui apresentada por uma amiga numa conversa, que deveria ser uma corrida e acabou com sorvete Itália, loja Vivo, atraso pro ensaio, tudo, menos algo físico - não sei se sou eu ou ela, acho que é isso que a gente vira, um grande acaso - a dois artistas franceses encantadores que desviaram minha semana.

Sophie Calle.

Ela é fundamental na sua forma de transformar a vida em arte, uma espécie que surge com algo que a gente fica se perguntando como foi que isso tudo começou.


"Eu queria que ele me escrevesse uma carta, mas ele não o fazia. Um dia, li meu nome, "Sophie", escrito no alto de uma página branca. Fiquei esperançosa. Dois meses depois do nosso casamento, vi debaixo da sua máquina de escrever a ponta de uma folha. Puxei-a e descobri a seguinte frase: "Quero te confessar uma coisa, na noite passada beijei tua carta e tua foto." Continuei a ler de baixo para cima: "Um dia você me perguntou se eu acreditava em amor a primeira vista. Eu cheguei a responder?" Só que o bilhete não era pra mim: no alto havia um H. Risquei o H. e coloquei um S. Essa carta de amor passou a ser a que nunca recebi."

Grégoire Bouillier.

Espantosa essa capacidade humana de colecionar propósitos. Ele escreve como mulher e levanta questões assexuadas.

"Apesar de todos os inconvenientes tive razão de não trocar e de me recusar a substituir essa lâmpada enquanto fazer isso não tinha significado para mim, a minha obstinação não era absurda de jeito nenhum e foi necessária toda aquela festa para que eu me desse conta e atravessou-me a idéia de que esta talvez só tivesse acontecido para chegar a esse resultado esplêndido e extraordinário, e seja como for, incontestável que foi trocar uma simples lâmpada no banheiro e na frente do espelho por pouco não me acabei de rir diante do meu reflexo e diante do mundo que insiste em resolver problemas a partir deles mesmos, sem nunca se preocupar com o significado que eles tem e devem ter para nós."

quarta-feira, 15 de julho de 2009

o segredo

nunca se está completamente equivocado, ou completamente certo, nada é completamente.



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. resultado de uma conversa cheia de opinião.

domingo, 12 de julho de 2009

o que já não é

é importante se saber nesse exato
por hora é isso, quando só
quando não só é outra coisa
a arte de nutrir-se de si
como o sol que tem luz própria
não ser o passado
ser nada agora
esse riso escancarado
esse desespero sabe que algo está por vir
essa vontade de que venha logo
isso ou aquilo que pode já ser
por não querer vir
algo sempre sucede?
não ser passagem
ser já
isso que não se sabe
que vê de longe
que não tem grupo
que não carece de muitos
nem de si
não tem nome
nem apetite
nem anseios mundanos
não carece