domingo, 6 de maio de 2007

"a poeira é só vontade que o chão têm de voar"

rita apoena

dor mundo

você nunca vai me ter se insistir em ser do mundo. porque o mundo já é meu há tempos, desulpe te dizer só agora. alguém me deu, não lembro quem, acho que foi Deus, ele disse assim:
- Menina, toma conta do mundo.

eu não pude recusar. ele é pai, e pai a gente ouve sem pestanejar.
por isso, ele é meu, e eu dele.

mais inteligente da sua parte seria se aliar aos mais fortes. isso na verdade é só um conselho, porquê eu também sei ser muito, na verdade nunca consegui ser outra coisa, você quase me ensinou que ser de um pode ser bom, mas não chegou a tanto. para que aja aprendizado, é preciso que aja entrega, almas nuas. algumas vezes eu ameacei ver além, via uma sombra, mas ela logo ia embora e a gente ficava ali naquela entrega pouca.

é preciso que se viva sabendo da força do tempo.
é preciso que se entenda que ser o todo é doído. Gandhi era um homem brilhante, mas não era bom pai. na vida é assim, ou você cuida de todos, ou de um só. não existe escolha, existe aptidão. já se nasce pro mundo ou para alguém do mundo.
agora me veio à cabeça: pode ser que o mundo também não seja só de um, logo, é possível que você também seja dele. agora me sinto traída, por você e pelo mundo. nunca me disseram nada! vocês são um do outro e eu sou uma de vocês dois. não sei se me agrada a idéia de ter que dividí-lo contigo. mas a vida é assim cheia de conflitos pequenos quando se nasce para um, e cheia de conflitos menores ainda quando se nasce para o todo. o todo nada mais é do que um vezes o infinito. logo pode-se nascer para cuidar de um ou de uns. quem é levado á segunda opção está condenado a dar mais do que recebe, o muito têm pouco pra dar, um pouco de cada um, o que pode ser um tanto, mas não preenche. quem ocupa a primeira opção vive de troca, a idéia é que os pesos e medidas sejam exatos, mas não são, nunca, ou quase nunca. a vida é cheia de graça e você está para um outro assim como o outro está para você, assim, você nunca está sozinho.

o todo condena e te faz parecer além.
até que você se sente Deus, é morto na cruz pelo cuidado pouco para com um monte e a vida passa a ser um rescussitar diário.

vidarte

só o teatro me permite voar.
a vida não.
preciso aprender a arte da vida pra ter material cênico, como você diz. o problema é que minha imaginação não presta, e diz:

- Não precisa ir tão fundo, dou conta do recado.


eu ouço e fico assim, na superfície, como espectadora da vida, como alguém que vê uma peça já sabendo o final, como alguém que se julga além disso tudo.