sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

resposta

- Por que você não veio essa noite?
- Disse-lhe que não iria.
- Não, não disse.
- Você ouve o que lhe agrada.
- Você cala o que convém...
- Esse é um caso?
- É?
- O que quer dessa vez?
- Delicadeza.
- Você sempre quer mais.
- Não quero mais.
- O quê?
- Nada.
- Não entendo...
- Nem eu...
- Tudo é tão simples.
- Você não entende nada...
- Faça-me entender? O que quer? O que lhe dou não basta?
- Não.
- O que quer? Diz!
- Quero flores...
- Só isso?
- Não. Quero palavras que me arranquem lágrimas, soluços, sentimento...
- O conflito a atrai tanto...
- Quero encanto, primeiro encontro, que pareças um herói americano cafona, um Vinícius de Moraes amante, um personagem rodrigueano, um cavaleiro do zodíaco, um príncipe das mil e uma noites...
- Pessoas costumam ser mais reais.
- Então não sou.
- O quê?
- Pessoa.
- È, sim.
- Acha mesmo?
- Certamente...
- Então, por que tudo parece tão pouco?
- Só parece.
- Quem disse?
- Eu.
- Você não sabe de nada...
- Será que não se julga muito?
- Faz sentido... Acha que peço absurdos? Sabe, quando abro minha janela, lá pelas 11 da manhã, traço um belo sorriso e penso: “hoje, hoje tudo estará resolvido”. Quando olho pro céu novamente, deparo-me com a hora de fechá-las, e seja lá o que tivesse que ter sido, não foi. Cada abrir e fechar diário leva um pouco de mim. Eu levo um pouco de fumaça. Alguém deve levar a resposta... Já se passaram tantas noites em que fui do fundo do poço à nuvem mais alta. Pena que na volta tudo insista em ser busca...
- Você é um absurdo. Quem é você?
- Sou o alimento dos poetas.
- Não te reconheço...
- Sou pérola. Amarga ou parente.
- Você parece ilusão...
- Sou.
- Como se chama?
- Maya.
- Agora entende por que não fui?

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

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"Greta Garbo: Mas por que é que você ia reparar numa mulher como eu? Estou sempre nervosa ou doente... triste... ou alegre demais."

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

vem ver

às vezes sinto uma vontade irremediável de escrever...
é nessas horas que as palavras correm, voam como se me dissessem:
- Aguenta isso tudo sozinha.
- É pesado demais.
- Sabe que não.
- Não, não sei.

minhas costas doem e eu culpo os excessos físicos, só depois vejo que na verdade o que falta é justamente ele, o excesso. tudo tão contido, tão equilibrado que dói, dói na alma.
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a escrita acorrenta. e quando ela me pede que vá, eu imploro pra que fique,
como uma amante pede a noite do seu aniversário
implora por

algumas horas que sejam.
só quero durmir essa noite.

sabe quando a noite briga contigo para que não durmas, para que viva cada segundo que ela oferece? dói tanto que parece tortura. a cama pesa sob minhas costas também doídas de tantas cruzes reservadas pro meu bel prazer. não sei quando é cruz, quando é flor. dói sempre tanto. o olho não quer fechar. eu insito, brigo com meu sentido inquieto. eles não se fecham, a cabeça não pára de pensar no que poderia ter acontecido, no que gostaríamos com devoção que fosse menos abstrato. vivo o futuro de anos numa só noite e acordo com a melancolia daqueles que não têm muito mais o que fazer de olhos abertos.