sábado, 22 de abril de 2006

Eles

Como ele poderia dizer pra ela que ela não era bem assim como ele sonhava?
Como ela poderia dizer que essa coisa de corpo ainda a assusta um pouco?
Como ele diria que a vida passa rápido e que ela tem medo de viver?
Como ela diria que o medo do desconhecido só precisa de um lirismo maior pra ser quebrado?
Como ele poderia dizer que seu balançar de perna e seu olhar perdido o faz seguro?
Como ela poderia dizer que sua vida é tão aflita quanto seus sentidos?
Como ele diria que ainda é novo para entender a sua profundidade?
Como ela diria que o sente tão passageiro quanto uma viagem?
Como ele gostaria que ela não se fizesse tão culta aos seus olhos
Como ela gostaria que suas prioridades fossem diferentes das de um menino
Ela só queria que essa euforia viesse acompanhada de um abraço
Ele só queria desrrespeitar o tempo
Ela só queria se filiar ao tempo para que um dia ele atenda seus pedidos
Ele só queria saber quem é o autor de determinada frase
Ela só queria lhe mostrar o quanto é sábia
Ele a faz perguntas frágeis
Ela responde com a humildade de quem muito sabe
Ele é tão obscuro quanto um dia de chuva
Ela irradia como um dia de sol
Ele é uma pena
Ela é a pena.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Magia

Hoje ouso escrever algumas linhas, pois acho que basta de jejum, basta de esconderijos, basta de me esconder de mim. Tenho andado numa espécie de transe paradoxal, que me faz encontrar o lírico que fica no inconsciente, o paradoxo é que eu sei da sua existência. Descobri a pouco o quanto a flauta é um instrumento fantástico. Sendo mais específica achei assim por acaso numa viagem que fiz a pouco o instrumento que me faz levitar. Mesmo sendo um estranho, já sei o quanto sua companhia me fará bem, digo me fará porque sei que temos muito a viver pela frente. Acredito em poucas coisas, uma delas é o poder da música. Ela cura, encanta, e purifica, nos faz entrar num mundo inquestionavelmente mágico. Ah, como amo a magia!
Por hoje chega.
"Madalena tem um riso que significa uma possibilidade de gandaia-esperançosa"

Oswaldo Montenegro

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Desabafo

Arre, estou farto de semideuses!
Fernando Pessoa

O nascer

"Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso."
Fernando Pessoa

Ando tão dependente que sequer consigo juntar algumas palavras, sílabas ou letras.