quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

delicadeza

Nunca esperei tanto da vida
existe dedo, boca, cheiro...
quanta poesia.

.ponto irracional

me conceda uma estrada com entropias para que eu.
possa me esgueirar.
num resto de pedras dissimuladas.
para que eu caia num buraco e descubra que lá dentro.
existem princesas e príncipes.
adentrando devagar, agora sim posso ver uma luz aqui dentro.
espere! seria isso...
Não, não seria.
Não é possível que aqui existam animais falantes.
tenho medo.
acho que eles não falam.
mas olham.
e olham conflituosamente.
eu fujo aos seus olhares.
me apoio numa corda que me direciona ao comum.
olho-a.
sento e choro.
mais tarde saberia que fui adiante.
deixei de me sentir uma ocasião.
***As Crônicas de Nárnia foi um filme abalou o meu conspícuo pessimismo. Confesso que o leão me surpreendeu.
Aguardo um milagre.

sábado, 24 de dezembro de 2005

Espelho

É bom sentir tua mão tocando o meu braço exausto de tanto peso carregado, sentir que me prezas, mesmo que isso não baste. Sentir teu cheiro sempre que te aproximas e me inibe com tantos olhares distorcidos. Parece que queres me falar, e me falas. Assumo que entendo. Entendo, pois é pra isso mesmo que te busco, te busco sem que sintas para ouvir exatamente o que dizes. Falas da tua transparente forma que acanha a minha sensível vaidade. Acanha porque fala-me os contornos, os sorrisos, a pinta insignificante no braço, o olhar mais direcionado, o andar característico, a parte da barriga que aparece, medes exatamente a distância entre a blusa e a calça, e com um gesto sutil abaixas a blusa para diminuí-la. Notas a cor do meu cabelo, e nunca dizes não estar bom. Aprecias cada suspiro, cada frase pronta que eu te digo, sem a menor certeza. Tu nem imaginas tal possibilidade e encaras como verdade - me fazendo ainda mais vaidosa. Me preenxes, me falas de uma inteligência que desconheço, me estudas te vendo no espelho, te fazes bem ver-te em mim. Não me gostas sincera ao extremo, te dói ouvir detalhes sentimentais quando o atuante não és tu. Mas insistes, sabes que eu não falaria e por isso desfarça sua insegurança com uma curiosidade imatura. Finges ser menos sensível ao que posso revelar, mas te vejo no espelho e sei que esse se quebraria ao me ouvir falar de um outro que não me vigora tanto quanto tu. Ficaríamos aos pedaços e não restaria sequer sombra de duas pessoas que por estar perto demais não se viam.
Não sabiam definir suas formas.
Esses encontros os fizeram um só diferente daqueles refletidos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Só passei aqui pra dizer que não aguento mais ver tantos rostos felizes e me sentir mal por não estar da mesma forma. Porquê tudo é tão vazio?

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

A vida

Penso que a vida não tem um sentido permanente. Ela se faz valer por pequenas coisas, detalhes pouco visíveis. Um abraço é muito mais que um toque entre duas pessoas. Há um fluxo e refluxo de energia intenso, no qual os corpos se unificam e vibram num só ritmo. Mesmo que curto, existe a troca inconsciente. Nos tornamos íntimos de tal pessoa, e naquele momento a queremos bem. Logo se muda de fase, e as sensações são eternas metamorfoses. Hora degustamos como animais do prazer da carne. Outrora, raciocinamos como seres humanos. E é nesse instante que nos deixamos dominar pelo consciente: grande arquivo de dogmas.

17.11.04

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Infeliz descoberta

Descobri que nem a solidão se basta.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Adoro te inventar

Gosto de te imaginar falando frases prontas que eu penso que são pra mim

Te crio numa tela em branco
Coloco as cores que concordam com a minha estética
Por isso te vejo tão perto
Você sou eu envolto numa trabalhada moldura
Na minha tela, eu te controlo
Você ainda me parece criança
E vê em mim a beleza de um mundo que não conhece
Ouve de mim a história que eu quero contar
Não faz diferença
Verdade ou não, você acredita
E eu também
Queria te fazer dependente da minha inocente maturidade
Te mostrar o que seus olhos não alcançam

Te quero da forma que vejo
Sem falsas promessas
Só meios sorrisos
Sem longos discursos
Só meias palavras tão metafóricas que ofuscam o meu ver
Com esse brilho nos olhos
Curiosidade de um menino maduro
Gana de um homem ingênuo
Desconfiança de quem chega de surpresa

Até o que antes me parecia tolo
Hoje soa, no mínimo, agradável quando feito por você
Você descobriu as minhas cores
E eu ainda procuro uma única cor que consiga direcionar seus dispersos olhos para minha insana ilusão...

Antes que eu me iluda
Antes que eu te considere arte final
Antes que você não me permita ver nada
Antes que outra pessoa te pinte

Qual a cor que te agrada?

Antes cedo do que nunca.

03/11/2005

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Fama

"A fama é proporcional ao mistério."
Inês Pedrosa

Até apaixonar


Todos olharam, como nunca tinham olhado antes. Todos riram de uma forma que a fez notar sua graça até agora afogada na timidez. Ao passo que o riso aumentava, ela também ria-se, crescia, e fazia como se quisesse abraçar todos que ali estavam perplexos e surpresos com tamanha aparição, tão repentina, que se podia ouvir um silêncio desconfiado a cada sorriso que se punha num crescente e acabara numa gargalhada febril. Ela deixou de ser menina, deixou de ser pequena, esqueceu de lembrar das sua incertezas para inflamar sem o menor transtorno o sorriso de pessoas que sequer notavam a sua insistente presença. Ela aguardara com a sabedoria de um adulto o momento de esbanjar o seu sorriso de menina. Sabe dos seus encantos. Vive com um suspiro objetivo que é acionado a cada conquista sanada. É uma eterna apaixonada por pessoas, todas as pessoas, se apaixona por todos ao mesmo tempo.
Se apaixona até apaixonar.
Agora a conquista sede seu lugar.
Ela sabe que aqueles olhos nunca mais a olharão da mesma forma, mas acredita que os sorrisos podem ser os mesmos. Os sorrisos são menos instáveis que o olhar.
Encanta. Agora ela busca outros olhares que possam ser surpreendidos, outros sorrisos que atentem para a sua graça, outra conquista que a faça sentir cheiro de novo. É viciada em novidade, transforma a rotina em inúmeras descobertas.
Brinca com o velho e com o novo.
Alterna entre graças e degraças.


domingo, 4 de dezembro de 2005

Personagens do tempo

Nessa efêmera distância
Me encontro no seu olhar
Te toco em pensamento
E te sinto cada vez maios perto

Somos horizontes simultâneos
Construtores de uma estrada enérgica
que interliga os dois polos do mundo
Somos autores do diâmetro

Complementamo-nos
como o sol e a lua
Que se propõe a uma dança diária
Fazendo da rotina uma eterna novidade

Se devassam dia pós dia
E tem ao seu redor uma imensa platéia
Plenam, sem esperar pelo tempo
São protagonistas do tempo

O tempo não passa
O dia passou
O tempo não passa
A noite passou

Não espero pelo tempo
Aguardo pelo seu atraso
O tempo não passa
Você também não
O dia não acontece
A noite perdeu a razão.

(17.12.04)

Sinonímia

A grande polissemia pessoal da qual sou apenas vitima me confunde. Mesmo que momentaneamente seja esplendido, as entrelinhas me consomem, e me fazem repensar conceitos como: felicidade.
Essa metamorfose constante é tão monótona quanto a rotina...
E mesmo que sem razão sigo um caminho que defino como: ilusão denotativa.
20.04.05

O ritmo das palavras

Esperei por uma música, sem esperança.
Acho duvidosa essa espectativa que criamos num show. Esperamos por uma determinada música em especial, e quando essa música toca, parece que naquele momento somos únicos. Temos a sensação de que a música do silêncio que nos aterroriza com a verdade exclusiva resolveu dar lugar a música das palavras.
Acredito que o silêncio é a única verdade absoluta, mas penso que a música é a utopia que nos nutre.

Música do Lenine_ Paciência

"Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é
normal
Eu finjo ter paciência"


Show 16/07
(18.7.05)